Título: EUA investigam MST, revela chefe do Incra
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2005, Nacional, p. A5

Superintendente em PE diz ter sido procurada por diplomatas A superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Pernambuco, Maria de Oliveira, recebeu em 10 de fevereiro, na sede do órgão no Recife, o cônsul dos Estados Unidos no Estado, Peter Swavely, e o segundo-secretário para Assuntos Políticos da Embaixada dos EUA em Brasília, Peter Thomas Reiter. Eles buscavam informações sobre o "abril vermelho" de invasões que o Movimento dos Sem-Terra (MST) prometia e queriam saber se o Brasil e Pernambuco estavam preparados para dar uma resposta de atendimento ao movimento.

"Recebi a embaixada porque me pediram uma agenda, mas o encontro realmente se resumiu ao 'abril vermelho'", contou Maria ontem, por telefone, de Brasília. A reunião foi sigilosa e surpreendeu a superintendente regional, que nunca havia recebido embaixadores antes.

Numa nova reunião, os americanos queriam complementar informações sobre a onda de invasões dos sem-terra em abril. Também buscavam esclarecer notícias veiculadas na imprensa de que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) estariam atuando em Pernambuco, na Fazenda Normandia, em Caruaru, no agreste, onde fica a sede do MST no Estado. A presença das Farc em Pernambuco foi denunciada por um ex-integrante do MST e investigada pela Comissão Parlamentar de Inquérito da Terra.

Depois, os americanos tentaram novas reuniões com Maria, mas ela decidiu não mais recebê-los e sugeriu que procurassem o Ministério do Desenvolvimento Agrário em Brasília, por considerar que era mais adequado do ponto de vista hierárquico e especialmente por dizer respeito à soberania nacional.

O fato veio à tona sábado, em reportagem publicada no Jornal do Commercio, em que a superintendente confirmou o encontro e falou de seu desconforto com isso. "Para mim essa situação de um país buscar informações sobre movimentos sociais de outro país é muito preocupante." Maria disse que se a embaixada sentia a necessidade de ter mais informações deveria procurar o ministério.

O cônsul dos Estados Unidos em Pernambuco não foi localizado pela reportagem. A Embaixada dos Estados Unidos em Brasília não vai se pronunciar sobre o assunto.

CONSPIRAÇÃO

O líder do MST em Pernambuco, Jaime Amorim, disse ontem que se os EUA estão investigando o movimento no Estado, "este não é um problema do movimento, é do governo federal, por se tratar de ingerência na soberania nacional". Ele afirmou que o MST sabe que a CIA (órgão de inteligência dos EUA) investiga o movimento. "Por isso mesmo, deve saber que não há presença das Farc nem no MST nem em Pernambuco."

Amorim teme que este tipo de "conspiração" pressione o governo a adotar medidas contra o MST. "O objetivo é levar o governo a tratar o movimento como uma organização criminosa", avaliou, ao considerar que a edição pelo governo anterior da medida provisória que impede desapropriação de terras ocupadas seguia orientação da CIA. "Esta lei colocou o movimento na ilegalidade", afirmou ele.

Pernambuco é um dos Estados com maior número de conflitos agrários no País. Só neste mês, o MST já fez 25 ocupações de terra, com despejo em 2 delas.