Título: Governo investe US$ 698,7 mi em aviões militares
Autor: Roberto Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2005, Nacional, p. A7

Acordo com consórcio europeu prevê compensações comerciais de US$ 467 milhões, envolvendo 16 empresas do Vale do Paraíba O governo está investindo US$ 698,7 milhões na compra de 12 aviões cargueiros C-295 e 8 aeronaves P-3 Orion, de patrulha marítima, que serão modernizados no País pelo consórcio europeu EADS/Casa-HTA. No acordo referente ao esquadrão de patrulhamento, haverá compensações comerciais no valor de US$ 467 milhões, envolvendo 16 empresas do complexo industrial aeronáutico do Vale do Paraíba.

A contrapartida prevê a encomenda local de componentes, transferência não especificada de tecnologias, treinamento de pessoal de manutenção, investimentos em parcerias e "ampla colaboração com o Centro Técnico Aeroespacial (CTA)".

Os modelos de transporte serão fabricados na Espanha. Os P-3 são americanos e saíram da fábrica há 40 anos. Depois de revitalizados poderão ser operados pela Força Aérea Brasileira (FAB) até 2025. O primeiro exemplar da série denominada P-3Br será entregue em 2008.

O valor dos contratos, autorizados pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, é apenas US$ 2 milhões inferior aos recursos - de US$ 700 milhões - que seriam destinados à aquisição de novos caças de defesa aérea da FAB. A concorrência internacional aberta em 2000 para escolher os supersônicos foi encerrada em fevereiro sem que nenhuma decisão tivesse sido tomada.

EMBRAER

O Comando da Aeronáutica vai encomendar da Embraer o desenvolvimento de uma avançada versão de patrulha, a partir do jato de grande porte Emb-195. O avião é o maior da família de produtos da empresa e tem porte equivalente ao do Boeing-737 sobre o qual a Aviação Naval dos Estados Unidos decidiu montar a central aerotransportada MMA de múltiplo emprego. A versão do Pentágono estará pronta para uso em 2013. O projeto nacional, do P-195, pode demorar dez anos "se não houver necessidade estratégica pelo equipamento", segundo análise de um integrante do Alto Comando da Aeronáutica. Esse produto de alta sofisticação deverá incorporar sistemas digitais para atuar também como centro de inteligência e de coordenação de combate. A cotação inicial, unitária, baseada na concorrência do Pentágono para o MMA é de US$ 180 milhões.

A Embraer já fabrica em São José dos Campos um jato médio de vigilância oceânica, o P-99, montado sobre a plataforma do modelo civil Emb-145. A aviação do México comprou duas unidades. A especificação desse avião não atende às exigências da FAB, de acordo com o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, motivo da escolha do P-3 Orion atualizado.

A opção provocou vigorosa reação da Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (Aiab). Em dezembro de 2004, o presidente da Aiab, Walter Bartels, enviou carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e parlamentares, argumentando que havia "alternativa doméstica de qualidade" e que o programa P-3Br "significa a não adoção da solução nacional". Na sessão da CAE, o senador Romeu Tuma (PF-SP) disse que a Embraer não faz aeronaves do tipo requerido pelo Comando da Aeronáutica.

Cada uma das oito carcaças do Orion selecionadas no depósito mantido pela Marinha americana em Tucson, no deserto do Arizona, foi comprada por US$ 800 mil. Depois do processo de conversão o custo final chegará a US$ 33 milhões por aeronave.

Estão em atividade na aviação militar de 16 países, cerca de 420 quadrimotores P-3. Esse avião - variante do Electra, utilizado na ponte aérea Rio-São Paulo até 1991 - pode permanecer em vôo de patrulha a baixa altura por 16 horas, ou por até 20 horas em grande altitude. Transporta 10 toneladas de mísseis, torpedos, bombas, minas e foguetes. Além da tripulação, abriga um grupo de 13 a 19 técnicos.

Tem acomodações para repouso e grandes reservas de combustível, "condição essencial para cobertura dos 6,4 milhões de quilômetros quadrados que compõem a área de interesse econômico e de segurança sob controle brasileiro (...) combinados com os quase 8 mil km de litoral", conforme o texto da minuta levada ao Senado pelo Ministério da Defesa.

Os 12 aviões C-295 de carga vão substituir os velhos Búfalo ainda em uso pela FAB. Durante a sessão de aprovação do gasto de US$ 698 milhões, o senador Tuma lembrou que ele próprio viajou pela Amazônia nesses aviões durante o período em que chefiou a Polícia Federal na virada dos anos 80 e 90. "Já eram velhos nessa época", disse. Três deles estão em vôo, remanescentes da frota de 18 cargueiros adquiridos a partir da década de 60.