Título: Gutiérrez é retirado de madrugada da embaixada e já está no Brasil
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2005, Internacional, p. A8

Autoridades aproveitam ausência de manifestantes em frente da representação brasileira e levam ex-presidente para base aérea O presidente deposto do Equador Lucio Gutiérrez chegou ontem no início da tarde a Brasília, depois de quatro dias de tensão por conta na demora do novo governo local conceder o salvo-conduto que lhe permitiria deixar o país em segurança. No entanto, o chanceler equatoriano, Antonio Parra Gil, advertiu que o país se reservava o direito de pedir a extradição de Gutiérrez, caso seja aberto um processo contra ele - pedido que o Brasil teria de examinar. No fim de uma operação que durou mais de oito horas (ler detalhes abaixo), um Gutiérrez cabisbaixo e com ar abatido deixou o avião presidencial que foi buscá-lo acompanhado da mulher, Ximena, e da filha mais nova, Viviana Estefanía.

Os três, acompanhados do chefe do departamento jurídico de assistência a brasileiros do Itamaraty, embaixador Manuel Gomes Pereira, embarcaram em um helicóptero da Presidência da República, e foram levados para o hotel de trânsito dos militares.

Amanhã, de acordo com informações do Palácio do Planalto, o presidente deposto deve se encontrar com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para formalizar o pedido de asilo político. Durante o vôo para o Brasil, Gutiérrez manifestou o desejo de agradecer ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas nada foi marcado ainda.

Deposto na quarta-feira, Gutiérrez estava desde esse dia na embaixada do Brasil em Quito, onde havia pedido asilo. Por dois dias, o governo brasileiro negociou com o novo governo equatoriano um salvo-conduto para a retirada do ex-presidente do país. Com a embaixada cercada de manifestantes, a segurança para qualquer operação era quase nula.

"Em Porto Velho (onde a Aeronáutica aguardava), na sexta-feira às 23 horas tínhamos o salvo-conduto, mas nenhuma condição de segurança para resgatar o presidente", contou o comandante da operação, brigadeiro-do-ar Joseli Camelo. A operação só começou na madrugada de domingo, depois que a negociação entre o Itamaraty, a Aeronáutica e a Força Aérea Equatoriana foi concluída.

Uma das filhas de Gutierrez, Carina Ximena, de 20 anos, chegou a acompanhar a família até o aeroporto, mas decidiu ficar no Equador. Cadete da Escola de Formação do Exército, Carina decidiu terminar o curso em seu País.

Depois de dias de tensão, a família foi levada para o hotel militar em Brasília, onde deve ficar por tempo indeterminado, até encontrar um local permanente de hospedagem. No hotel, Gutiérrez está com a mulher em um quarto com suíte e uma sala, enquanto a filha fica em um segundo aposento. Um grupo de agentes da Polícia Federal, que está fazendo sua segurança, ocupa um terceiro. Policiais do Exército guardam a entrada do hotel, evitando a aproximação de estranhos.

O futuro de Gutiérrez no Brasil ainda é desconhecido. De acordo com o Itamaraty, o asilo político é concedido por dois anos, sempre renováveis, com a condição de o asilado não dar declarações ou participar de movimentos políticos e nem sair do País sem comunicar ao Ministério da Justiça.

No entanto, Gutiérrez ainda deve decidir onde vai morar. O Itamaraty desconhece a situação financeira do ex-presidente e se ele vai necessitar de um visto de trabalho. Os dois presidentes depostos asilados no Brasil, os paraguaios Lino Oviedo e Alfredo Stroessner, nunca pediram permissão para trabalhar.