Título: Kirchner se irrita com decisões do Brasil
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/04/2005, Internacional, p. A11

Para governo argentino, caso Gutiérrez deveria ter sido analisado pela OEA O presidente Néstor Kirchner está irritado com o protagonismo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na crise do Equador. Integrantes do gabinete presidencial, expressaram em Roma - onde Kirchner assistiu à missa de posse do novo papa, Bento XVI - sua desaprovação à oferta de asilo feita pelo presidente Lula ao ex-presidente equatoriano Lucio Gutiérrez. No governo Kirchner, considera-se que esse tipo de decisão deveriam ter sido antes analisado em conjunto pelos países da região, especialmente a própria Argentina.

"O problema do Equador é que todos os atores são pecadores (em referência às diversas forças políticas em confronto naquele país). A Argentina está tratando o assunto na Organização dos Estados Americanos (OEA), que é o âmbito mais adequado para definir esta situação", sustentou o chanceler Rafael Bielsa.

O colunista político Horácio Verbitsky, com grande acesso ao presidente Kirchner, afirmou que "o Brasil pretende conduzir qualquer coisa que aconteça na América do Sul".

Em sua coluna no jornal Página 12, Verbitsky admitiu ontem que "a Argentina não tem destino fora da aliança estratégica com o Brasil". No entanto, destacou que o país "não pode aceitar o hegemonismo desaforado do Itamaraty, cuja política de grande potência está desgastando de forma perigosa o governo Lula, diante dos olhares irônicos de Washington, que se limitam a observar como seus supostos adversários se destroçam reciprocamente".

Outro analista, Eduardo Van der Kooy, do Clarín, indicou que Argentina e Brasil estão no meio de uma "mesquinha concorrência". Segundo ele, os dois haviam combinado que qualquer declaração pública sobre o caso equatoriano seria conjunta. "O vizinho gigante se deu mal sozinho, e Bielsa criticou Amorim", afirmou.