Título: Carros têm o melhor mês da história
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2005, Economia, p. B4

A indústria automobilística teve em março o melhor mês em exportações na sua história. A venda para mercados internacionais somou US$ 936,4 milhões, mostrando que o câmbio valorizado não prejudicou os negócios. O desempenho externo puxou a produção, que também bateu recorde mensal com 218,6 mil unidades. O resultado de março consolida o primeiro trimestre como o mais produtivo desde a instalação das montadoras no Brasil, nos anos 50. Foram fabricados 565.385 veículos, 12,5% a mais que no mesmo período de 2004. "O trimestre mostrou ritmo consistente, apoiado na exportação, o que até certo ponto nos surpreende", diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb.

Para o executivo, as exportações são beneficiadas pelo aquecimento da economia mundial, principalmente de países emergentes como a Argentina, e pela competitividade do produto brasileiro. Mas Golfarb insiste que o câmbio ainda é preocupante e teme reflexos nas encomendas futuras.

As estimativas da Anfavea para o ano todo, entretanto, estão mantidas. As exportações devem crescer 7%, para US$ 8,9 bilhões. O ritmo de crescimento será menor que no ano passado, quando as exportações aumentaram 48,5% ante 2003. Ainda assim, deve levar o setor ao recorde de produção anual, com 2,3 milhões de veículos, 5,4% acima do ano passado.

Em unidades, foram exportados 171.723 veículos entre janeiro e março, o equivalente a 30% da produção nacional. As montadoras de automóveis e comerciais leves e pesados empregaram em março 325 pessoas, o 15.º mês seguido de contratações. Já os fabricantes de máquinas agrícolas cortaram 359 postos. Na soma, o quadro se manteve estável, com 104 mil trabalhadores no setor.

As vendas internas de veículos aumentaram 4,8% no trimestre, para 370,9 mil unidades. No mês, o resultado foi 30% melhor que em fevereiro, período com menos dias úteis. Na opinião de Golfarb, o crescimento trimestral "é vegetativo e sofre as pressões dos juros altos e dos custos das commodities, como aço e plásticos".

No início de março, o governo federal eliminou o imposto de importação do aço, atendendo pedido de vários setores, incluindo o automobilístico. Mas, até agora, nenhuma empresa fez encomendas no exterior. "Os efeitos dessa medida não serão sentidos em menos de seis meses", diz Golfarb.

As montadoras vêm reajustando mensalmente os preços dos carros, na faixa de 1,5% a 2%, alegando repasse de custos. Fábricas e revendas encerraram março com estoques de 146.210 carros, equivalente a 29 dias de vendas.

O resultado negativo fica por conta do setor de tratores, que reviu para baixo a previsão de vendas. O número caiu de 30 mil para 34 mil unidades, uma redução de 20,6% ante 2004. Seca e queda de preços de commodities agrícolas são inibidores desse mercado que, no trimestre, contabiliza queda de 27,8%, para 5.882 unidades.