Título: Dólar cai de novo. Para R$ 2,601
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2005, Economia, p. B6

O dólar comercial fechou em queda pela nona vez consecutiva e atingiu a menor cotação desde 28 de fevereiro. No pregão de ontem, o recuo foi de 0,95%, para R$ 2,601. No mês, a perda acumulada é de 2,51%. No período de um ano, a desvalorização foi de 9,56% e em 2005, de 2%. No curto prazo, a queda é menor por causa da grande volatilidade do mercado de câmbio, que variou entre R$ 2,574 e R$ 2,766. Sem más notícias no cenário interno e externo, o câmbio chegou a romper a barreira dos R$ 2,60, sendo negociado ontem pela mínima de R$ 2,594. Para o analista de câmbio da Corretora Souza Barros, Hideaki Iha, a seqüência de quedas pode ser explicada pela ausência do Banco Central (BC) no mercado. Há cerca de três semanas a autoridade monetária não faz compras de dólar para elevar as reservas, estimadas em US$ 36 bilhões.

Esse valor é considerado pequeno, comparado aos das demais países do porte do Brasil. O ideal seria uma reserva líquida em torno de US$ 50 bilhões ou US$ 60 bilhões, afirma o sócio-diretor da MS Consult, Jorge Simino. Mas ele ressalta que isso significaria aumento de custos. Para comprar dólar, o BC precisa emitir títulos atrelados à taxa Selic e captar reais. "Com isso, você aumenta o passivo do País, pois a remuneração das reservas é bem inferior à taxa básica de juros do Brasil."

Outro fator favorável são os resultados recordes da balança comercial, que, apesar do recuo do dólar, têm conseguido manter o fôlego, afirma Simino. Até o primeiro dia útil de abril, o saldo somava US$ 8,612 bilhões no ano. As exportações atingiram US$ 25,039 bilhões, alta de 25,1% em relação ao mesmo período do ano passado, e as importações somaram US$ 16,427 bilhões, 19,2% maiores do que em 2004.

Simino lembra ainda que o País está entrando num período mais forte das exportações, especialmente por causa do embarque da soja. O que tende a pressionar ainda mais o câmbio. "Se o BC deixar o mercado agir naturalmente, o dólar poderá cair ainda mais", alerta o executivo da MS Consult.

Para completar o quadro, as elevadas taxas de juros do País estimulam as tesourarias dos bancos a vender dólar e migrar para aplicações atreladas aos juros, comenta o gerente de negócios da SLW Corretora, Renne Bueno. Isso aumenta a oferta de dólar no mercado.

Ele completa ainda que o ingresso de capitais no País tem sido significativo. Grandes empresas, como Ambev e Ripasa, fizeram captações de peso no mercado externo e tendem a aumentar o fluxo de dólar no País, afirma Hideaki Iha, da Souza Barros. "Diante das perspectivas, ninguém quer ficar com o dólar queimando na mão", explica ele.

No mercado de dólar futuro, à exceção da estabilidade projetada pelo contrato de outubro de 2006, cotado em R$ 3,145, os demais seis vencimentos negociados projetaram cotações mais baixas. Para 1.º de maio, a aposta é de queda de 1,16%, para R$ 2,623. O volume negociado somou US$ 4,93 bilhões, em 98.077 operações.

Segundo um operador, o BC comprou no mercado US$ 2,750 bilhões em março, ante US$ 4,700 bilhões em fevereiro, US$ 2,700 bilhões em janeiro e US$ 2,650 bilhões em dezembro. No total, a autoridade já teria adquirido US$ 12,8 bilhões em mercado.

INTERNACIONAL

Em Nova York, o dólar ficou praticamente estável ante o euro, mas em alta perante o iene. No final da tarde, o euro era negociado por US$ 1,2863, ante US$ 1,2865 do dia anterior. O dólar valia 108,68 ienes ante de 108,13 ienes.