Título: Buscavam água, acharam petróleo
Autor: Evandro Fadel
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2005, Economia, p. B9

Os habitantes de Joaquim Távora, a 350 quilômetros de Curitiba, sobretudo os 1.500 moradores do distrito de São Roque do Pinhal (15% da população total), estão com a expectativa em alta nos últimos dias. A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) foi abrir um poço artesiano e encontrou petróleo. Agora todos aguardam resultados de análises que devem ser feitas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Há algumas décadas, já foram feitas pesquisas na região, com perfurações que chegaram a 2.300 metros sem resultados satisfatórios.

Desta vez não foi preciso chegar a tanto. Segundo o gerente de hidrogeologia da Sanepar, João Horácio Pereira, a perfuração foi de 300 metros no fim do ano passado. Quando retornaram alguns dias depois havia uma camada de cerca de um metro de um óleo bastante viscoso. O material foi enviado ao Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), que informou no dia 18 de março se tratar de petróleo.

Amostras do óleo e da rocha foram levadas à ANP, a quem cabe decidir se serão realizadas explorações mais detalhadas no local.

Enquanto isso, a romaria para conhecer o poço tem sido grande. O que não incomoda o pacato distrito, diante das boas perspectivas que vêm sendo cultivadas. "Vai ser muito bom", acredita a atendente da creche, Rosângela Gonçalves. Proprietário de um mercado, Antonio Maria Rocha, que nasceu há 49 anos no distrito, torce para que as análises apontem para a viabilidade da exploração. "O local é muito carente de empregos." Acostumado com a cultura do café, ele é um dos que sonham com o progresso. "Vamos ser os reis do petróleo", brinca.

Com 53 anos, todos vividos em São Roque do Pinhal, o empresário mobiliário Celito Cabrera diz que foi uma surpresa para todos. "A gente esperava água." Ele é um dos que viveram a expectativa criada no passado, quando a Petrobrás fez perfurações que deram em nada. "Estamos na torcida para que desta vez dê certo, porque o local é bastante pobre."

O prefeito Willian Walter (PSL) não esconde a satisfação com as perspectivas que se abrem. "Não será bom apenas para o nosso município, mas para toda a região", afirma. "Estamos torcendo para que as pesquisas mostrem que as proporções são grandes e que há condições de exploração." Como primeiro resultado, ele poderá ver a receita mensal do município saltar dos atuais R$ 500 mil por mês para um volume ainda indeterminado, em razão dos royalties. E, ao mesmo tempo, diversificar a economia de Joaquim Távora, hoje praticamente restrita à agricultura e pecuária.

FORA DO LEILÃO

A ANP admite retomar as pesquisas do subsolo da Bacia do Paraná, caso a análise do petróleo encontrado pela Sanepar seja positiva. A região, no entanto, não será incluída na 7.ª rodada de licitações de áreas para exploração e produção de petróleo no País, marcada para outubro. A bacia já teve áreas licitadas nos três primeiros leilões realizados pela ANP, em 1999, 2000 e 2001. No primeiro, não houve ofertas aos três blocos ofertados. Na segunda, a americana Coastal - depois comprada pela compatriota El Paso - levou a única área oferecida por R$ 4,68 milhões. A área, porém, foi devolvida à ANP quatro anos depois. Na terceira rodada, as áreas da Bacia do Paraná também encalharam.

A Petrobrás tinha um bloco exploratório na Bacia do Paraná, chamado BPAR-10, concedido antes do fim do monopólio estatal. Parte do projeto foi vendido à mesma El Paso, que também optou por devolver a área, em 2003. A ANP informou que, mesmo que o petróleo encontrado pela Sanepar pertença a uma jazida comercial, a estatal paranaense não deterá os direitos sobre as reservas, que só pode ser concedida em leilões, segundo prevê a nova Lei do Petróleo. O proprietário do terreno onde o petróleo foi encontrado tem direito a uma compensação mensal, equivalente a 1% sobre a receita da venda das reservas.