Título: Eleição do novo papa começa dia 18
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/04/2005, Especial, p. H2

CIDADE DO VATICANO-A histórica escolha do papa que substituirá João Paulo II começa a ser feita a partir do dia 18. Ontem, o Vaticano anunciou que o Colégio de Cardeais havia chegado a uma definição sobre a data do conclave, que se reunirá com 116 religiosos. O Vaticano ainda anunciou que os cardeais abriram o testamento deixado por Karol Wojtyla e constataram que não há nenhuma revelação sobre a indicação de um cardeal "in pectore" (do coração). O texto completo do testamento será tornado público hoje. Conhecidos como "príncipes do Vaticano", os membros do Colégio de Cardeais se reúnem diariamente desde segunda-feira para preparar o funeral de João Paulo II. O futuro da Igreja também está no centro dos debates, inclusive questões relacionadas à eleição papal.

A definição da data da eleição, que será secreta, ocorreu apenas na quarta reunião do Colégio. Ontem, mais 31 cardeais aterrissaram em Roma e tiveram de prestar o juramento de manter os debates nos encontros em sigilo.

A partir do dia 18, portanto, os cardeais que têm direito de voto iniciarão suas reuniões na Capela Sistina, adornada por pinturas de Michelangelo. O processo, então, poderá levar dias até que se saiba quem será o novo chefe da Igreja Católica.

Durante esse período, os cardeais serão mantidos em total isolamento em relação ao mundo exterior: eles não poderão usar telefones, receber jornais, ver televisão ou ter acesso à internet. Qualquer desobediência a essas regras pode resultar em penas graves.

O cardeal brasileiro Geraldo Majella, que já está em Roma, disse que nem tradutores simultâneos poderão entrar nas salas, embora os 116 cardeais venham de países diferentes. "Vamos ver em que língua nos entenderemos."

POLONÊS

Quanto ao tão esperado testamento de João Paulo II, o porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro Valls, informou que se trata de um documento "interessante" de 15 páginas. Escrita em polonês, a íntegra do documento será distribuída ao público apenas hoje - ainda que ontem mesmo, após a abertura, uma tradução preliminar para o italiano foi feita para que os cardeais pudessem ler o documento durante sua reunião.

Navarro explicou que o texto foi escrito durante várias fases da vida de João Paulo II. O primeiro trecho foi feito em 1979, um ano após assumir o papado. Quanto às demais passagens do documento, o Vaticano afirmou ser impossível saber em que estágios da doença João Paulo II se encontrava quando escreveu o texto.

Apesar de o conteúdo ser mantido em sigilo até hoje, a expectativa é de que se trate de um testamento acima de tudo com uma forte carga espiritual. Ontem, o porta-voz do Vaticano adiantou que o papa não deixou registrado no documento o nome do cardeal "in pectore", aquele que ele gostaria que participasse da escolha do seu substituto.

Em outubro de 2003, João Paulo II sinalizou que teria indicado um cardeal nessas condições. Essa possibilidade foi criada para permitir que o papa recomendasse um cardeal que seria mantido em sigilo, principalmente em um país onde a Igreja estivesse sendo oprimida. Segundo o Vaticano, essa questão está "encerrada".

PÊSAMES

Durante a reunião de ontem, os cardeais também foram informados sobre as delegações de chefes de Estado que estarão presentes ao encontro. Representantes de outras religiões também comparecerão ao funeral amanhã.

Enquanto o Vaticano se prepara para o que pode ser o seu maior funeral da história, a Santa Sé faz questão de mostrar que está atenta aos demais acontecimentos do mundo. Ontem, o decano do Colégio de Cardeais, Joseph Ratzinger, enviou um telegrama ao governo de Mônaco lamentando a morte do príncipe Rainier III, ocorrida ontem.