Título: Descrição reforça suspeita sobre PMs
Autor: Rodrigo Morais, Roberta Pennafort
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2005, Metrópole, p. C1

O depoimento da principal testemunha e o modo de agir dos assassinos reforçaram a suspeita de que a chacina na Baixada Fluminense foi cometida por policiais militares. De um bar vizinho, Leovaldo, de 44 anos, assistiu à execução de nove pessoas no Bar Caíque, Nova Iguaçu, antes de ser baleado. Segundo o deputado estadual Alessandro Molon (PT), ele descreveu o atirador como um "homem de 1,70 metro, moreno, de cabelo preto cortado à máquina", no estilo militar. Leovaldo prestou depoimento ao Ministério Público no hospital - um tiro quebrou seu fêmur direito. "Ele viu um Gol branco parar diante do Bar Caíque. O homem que estava no banco do carona desceu e atirou", disse Molon. O assassino entrou no carro, que manobrou e parou diante do bar onde Leovaldo estava. De dentro do veículo, ele atirou na testemunha.

Segundo Leovaldo, havia apenas duas pessoas no carro e elas não estavam fardadas. O Ministério Público informou que foram recolhidas cápsulas de fuzil e de pistolas calibre 40 e 38, enviadas ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli. "Eles tiveram a cautela de recolher os estojos dos disparos efetuados, para evitar que fossem identificados, mas mesmo assim nós conseguimos recolher alguns", disse o chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins.

No Caíque, não havia marca de bala nas paredes - isso indica que o assassino era um bom atirador, já que acertou seus alvos. Além de Leovaldo, a única sobrevivente foi Kênia, de 27 anos, funcionária do Caíque. Atingida na cabeça, ela perdeu massa encefálica e seu estado era gravíssimo ontem. Leonardo Felipe da Silva, de 15, que chegou a ser internado com um tiro na cabeça, teve morte cerebral constatada ontem à tarde.

Leovaldo foi ouvido pelo subprocurador-geral de Direitos Humanos, Leonardo Chaves, e pelo coordenador de Direitos Humanos do Ministério Público, Gianfilippo Pianezzola, entre outros representantes do MP. Depois foi transferido, em sigilo e sob forte proteção policial, para outro hospital. Seu depoimento será enviado ao procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira. "Os crimes revelam covardia e total desprezo pela vida humana", afirmou Vieira.

O cozinheiro Vicente Lopes, de 45, vizinho do Caíque, chegou ao bar segundos depois da fuga dos assassinos. "Vi um garoto escondido atrás de uma máquina de fliperama. Achei que estava vivo, mas depois vi que não respirava." Sônia Albino, de 40, prima de um dos mortos, Robson Albino, de 25, funcionário da prefeitura de Nova Iguaçu, ouviu os tiros. "Sempre dizia a ele para não andar em bar."