Título: Bastos manda PF entrar no caso
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/04/2005, Metrópole, p. C4

Vannildo Mendes, Lisandra Paraguassú, Felipe Werneck e Fabiana Cimieri O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, determinou ontem que a Polícia Federal dê todo o apoio necessário às investigações sobre a chacina ocorrida na noite de anteontem no Rio. O secretário da Segurança Pública do Rio, Marcelo Itagiba, disse que é "bem-vinda e bem-aceita" a ajuda federal na investigação da chacina de 30 pessoas "escolhidas a esmo" na Baixada Fluminense. Ele conversou pela manhã com Bastos, com o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, e com o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, que ofereceram a ajuda. Segundo Itagiba, que admitiu a possibilidade de transferir o seu gabinete do centro para a Baixada, a PF já está colaborando na área de inteligência. O secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, afirmou no Rio que a PF abrirá um inquérito paralelo para apurar os crimes. "Temos uma operação na Baixada de depuração dos maus policiais. Se houver policiais (envolvidos no crime), serão os primeiros a serem apresentados e execrados, porque não são policiais, são bestas humanas", disse Itagiba. Ele classificou a chacina como "barbárie, ato de terrorismo, situação de calamidade pública, violência jamais vista contra civis que estavam em momento de lazer".

A chacina chocou os escalões de Brasília envolvidos com a área de segurança pública. Depois de uma conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Justiça, ficou decidida a divulgação de uma nota oficial pelo Palácio do Planalto condenando o episódio e colocando o aparato federal à disposição das autoridades do Rio para o total esclarecimento do crime e punição dos responsáveis. "O que podemos dizer sobre esse crime é que ele não vai ficar impune. A punição virá, conforme previsto em lei, com severidade e dureza", disse Bastos.

Segundo o ministro, é cedo para afirmar se a ação foi uma reação hostil ao comando da Polícia Militar. "É preciso abrir várias linhas de investigação, para que não escape ninguém, seja quem for." O ministro conversou com a governadora Rosinha Matheus, que aceitou a ajuda federal.

O diretor da PF, delegado Paulo Lacerda, informou que a instituição está colhendo informações sobre a chacina para, em conjunto com as autoridades de segurança do Rio, definir a ajuda necessária. "Nós vamos levar ao Rio uma equipe preparada para auxiliar a polícia estadual a desvendar o mais rápido possível esse episódio." Lacerda admitiu que o descontentamento de policiais com punições internas da PM são possibilidades a serem consideradas. Ressalvou que é prematuro confirmar qualquer hipótese.

A presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputada Irani Lopes (PT-ES), afirmou que a presença da PF é essencial na apuração.