Título: Cresce a bancada dos nobres vaidosos
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2005, Nacional, p. A5

Eles fazem sobrancelhas, pintam unhas e cabelos e se submetem a implantes de cabelo, cirurgia plástica e até lipoaspiração. Outros preferem freqüentar as clínicas de rejuvenescimento, onde fazem tratamento de combate a rugas e sinais exteriores da idade. Também vestem ternos bem cortados e estão ligados em tudo que diz respeito à aparência. Em comum, ainda, o fato de serem todos deputados e senadores e de formarem uma das bancadas que mais cresce no Congresso: a dos metrossexuais. Metrossexual é termo da moda para qualificar o homem vaidoso dos dias de hoje. A novidade é que o surto de vaidade que contaminou o mundo masculino está fazendo um número cada vez maior de adeptos. "Na sociedade moderna e da TV, a boa aparência é fundamental", justifica Inocêncio Oliveira (PMDB-PE), primeiro-secretário da Mesa da Câmara.

Ele é da ala metrossexual cabra-macho. Pernambucano de Serra Talhada, casado com Ana Elisa, com quem teve quatro filhas, Inocêncio começou a se cuidar por recomendação da mulher, que tem diploma da Socila de Fortaleza (escola de etiqueta). Com apuro, o deputado depila a sobrancelha e, além de cortar os pelos do ouvido e do nariz, pinta as unhas com esmalte transparente. Mas prefere o cabelo com a cor natural. "Eu pinto as unhas para evitar roê-las", explica. A preocupação com o visual é rigorosa. Os ternos, sapatos e camisas são todos da marca Hugo Boss.

"Eu tinha desvio de septo e aproveitei a cirurgia para melhorar o nariz, que era chato", conta. Novas investigações na frente do espelho levaram o deputado a se preparar para outra operação: "Já fiz todos os exames e agora vou fazer nova plástica para tirar as rugas."

O resultado de tanto apego estético tem repercussão no humor. Inocêncio, que uma vez quase brigou com um colega num aeroporto, conta que ao se sentir remoçado sua cabeça também mudou. "Melhorou a minha auto-estima e deixei a agressividade de lado."

Na Câmara, a maior transformação foi com Roberto Jefferson (RJ), presidente do PTB. Ele fez cirurgia para reduzir o estômago e baixou o peso de 174 quilos para 102. Depois, para se livrar da pele que sobrou, fez cirurgia no rosto, lipoaspiração no peito e na barriga e plástica nas pernas. "Antes da cirurgia, eu parecia um velho", diz.

Jefferson também era pavio curto, mas abandonou o estilo pit bull em troca de uma versão mais dócil. "Minha auto-estima cresceu uma barbaridade e eu me tornei muito melhor", comemora. Também mudou seu divertimento favorito nos fins de semana. "Eu troquei o tiro ao alvo pelo prazer de cantar música clássica."

A antiga máxima de que "é dos carecas que elas gostam mais" caiu por decurso de prazo. Boa parte da bancada dos "metrossexuais" é formada por ex-calvos. Mas há os implantados assumidos e os que não assumem de jeito algum. O deputado João Caldas (PL-AL), quarto secretário da Mesa, não esconde que fez implante e vai fazer de novo. E ainda explica o motivo: "Eu não suportava quando alguém gritava: ô careca!"

Outra turma prefere a discrição. O deputado Sandro Mabel (GO), líder do PL, tinha entradas acentuadas e, de repente, ressurgiu com cabelo na testa, no melhor estilo jovem guarda. Outro é o deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), que já é chamado a boca pequena de "rei do implante". "Ele já fez quatro ou cinco", entrega um colega. Ele agora é cabeludo com direito a rabo de cavalo e visual bicho-grilo tropicalista.

Para fazer justiça, é bom lembrar o pioneiro nesse tipo de fenômeno. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), ainda na Constituinte, chocava seus colegas e era vítima de preconceitos por seu excesso de zelo com a vaidade. Dias está de novo na frente. Ele costuma travar uma batalha contra a velhice numa clínica de rejuvenescimento de Brasília. O senador Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB, também é freqüentador da clínica. Ali, ele toma injeções de Procaína, que promete retardar o envelhecimento. Diante de tanto culto à beleza pode-se entender porque os parlamentares querem ganhar mais.