Título: Para escolher melhor roupa, presidente consultou internet e assessoria jurídica
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2005, Nacional, p. A14

Após uma atenta consulta na internet, o presidente da Câmara de Mogi, Rubens Bibo, escolheu o tenue de ville (traje de cidade), ou passeio completo que, pelas regras da etiqueta e do cerimonial, correspondem ao uso de trajes formais ou sociais. Medida de tal impacto e importância passou pelo crivo da assessoria jurídica da Casa e das Comissões de Justiça e de Finanças e Orçamento. Assim, o artigo 73 do regimento impõe aos vereadores comparecimento às sessões "em traje social compatível à austeridade do local". Para os homens - eles são 13 na Casa -, tornam-se imprescindíveis o paletó e a gravata. Para as mulheres - apenas 3, entre elas Inês Paz -, "vestimenta formal, podendo se constituir de blazer ou tailleur, com calça comprida ou saia, adequando-se à solenidade que as sessões da Câmara exigem".

O artigo 95 estende o rigor da norma aos funcionários e aos assessores, "salvo aqueles que prestem serviços fazendo uso de uniforme".

O projeto foi aprovado por unanimidade em sessão realizada há cerca de um mês. Paz ausentou-se da votação - por motivos de saúde, ficou afastada oito dias. Mesmo classificando a imposição de "retrocesso", ela se rendeu à nova regra e decidiu mudar o guarda-roupa. "Não tenho roupa fina em casa, vou comprar para me enquadrar." Logo, deu início a uma peregrinação pelas lojas de Mogi, em busca de trajes que a deixem de acordo com a regra.

Menos mal, ela não terá de mexer em suas economias - vencimento líquido de R$ 4.456,69 como vereadora, e R$ 1.200 como professora. O artigo 3.º da resolução prevê que as despesas correrão por conta das verbas orçamentárias próprias da Câmara, "suplementadas se necessário".

Ela suspeita que a medida tem "cara de censura, uma forma de cercear a vestimenta do PT". Vai levar a questão à direção de seu partido, "para uma apreciação aprofundada". Resta um consolo a Paz. Considera que não está impedida de continuar usando brochinhos do partido. "Não está no regimento que não posso usar ornamentos do PT."

A celeuma de Mogi provocou repercussão entre vereadores e na imprensa de municípios vizinhos. "Ela (Paz) não pode fazer da Câmara o seu comitê político", adverte o presidente do Legislativo de Ferraz de Vasconcelos, Acir dos Santos (PSDB), o Acir Filó, em declaração ao Diário de Suzano. Ele vai mais longe e sugere que alguns vereadores da região façam curso de português. "Tem vereador que destrói o português."