Título: Bancos vão à caça dos aposentados
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2005, Economia, p. B1

De olho num mercado com potencial para movimentar mais de R$ 30 bilhões por ano, os bancos esquentam a disputa para abocanhar parte da renda dos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Diante do sucesso dos empréstimos consignados, com desconto em folha de pagamento, os mais de 18,5 milhões de beneficiários da Previdência se tornaram o alvo predileto das instituições financeiras e estão revolucionando o mercado de crédito brasileiro. O alto interesse dos bancos está no baixo risco de inadimplência e no menor custo operacional, diz o professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo Alberto Borges Matias, sócio da ABM Consulting. Isso porque o empréstimo parcelado é descontado diretamente do pagamento dos aposentados, sem que a instituição precise fazer nenhuma cobrança. Em contrapartida, os clientes também são beneficiados. A taxa média do juro no crédito consignado está em 39,4% ao ano, enquanto as linhas tradicionais de empréstimo pessoal cobram 75,3%, segundo o Banco Central.

Entre os beneficiários, a nova opção de crédito foi muito bem-recebida, seja pelas taxas menores, seja por atender uma camada da população praticamente excluída do sistema financeiro. Segundo a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev), o volume tomado pelos aposentados e pensionistas saltou de R$ 3,4 milhões, em junho passado, para R$ 4,9 bilhões até 30 de março. Neste ano, a evolução média foi de 25% ao mês.

Na opinião do sócio da Partner Consultoria Álvaro Musa , a tendência é que esse mercado continue crescente. Dos 18,5 milhões de aposentados e pensionistas, apenas 10,7% já usaram a linha de crédito, ou seja, 1,98 milhão de beneficiários. "A demanda é muito forte", afirma.

O mercado potencial para os bancos deverá crescer ainda mais a partir de junho, quando o salário mínimo deve aumentar de R$ 260 para R$ 300, além do reajuste de cerca de 7% para quem recebe acima de um salário mínimo. Os aumentos deverão injetar mais R$ 1 bilhão por mês na economia, segundo cálculos do mercado. Conseqüentemente, o volume que os aposentados podem tomar emprestado aumenta. De acordo com a lei, os empréstimos estão limitados a 30% da renda mensal.

Hoje, 16 bancos estão autorizados a conceder esses empréstimos. Em maio, esse filão era atendido apenas pela Caixa Econômica Federal e pelo BMG.