Título: Competição cresce e juros ficam mais baixos
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/04/2005, Economia, p. B3

O surpreendente sucesso do empréstimo consignado para aposentados e pensionistas do INSS, cuja carteira já soma R$ 4,87 bilhões, desperta o interesse dos grandes bancos de varejo, que não querem ficar fora deste mercado. Com exceção da Caixa Econômica Federal, apenas instituições de pequeno e médio portes ofereciam o produto aos beneficiários da Previdência Social. Mas a lista de bancos ganhou competidores de peso nas últimas semanas, aumentando a concorrência no mercado de crédito. A boa oportunidade de negócio primeiro foi percebida pelo Unibanco, que oferece o produto desde meados de março. O último a entrar no mercado foi o Banco do Brasil, na quinta-feira, e já oferece as menores taxas do setor, entre 1,5% e 2,4%. A instituição estatal tem R$ 3 bilhões para emprestar aos aposentados e pensionistas do INSS, só neste ano.

Segundo o Ministério da Previdência, outros 19 bancos aguardam autorização do governo para entrar no mercado. O Bradesco é um deles. A maior instituição financeira privada do País confirmou que está se preparando para lançar o novo produto no segundo semestre.

Mas o banco já participa indiretamente desta modalidade de crédito. Desde o final do ano passado, ele firmou parcerias com cinco instituições de menor porte (BMG, Cruzeiro do Sul, Bonsucesso, Paraná e Panamericano), em negócios que envolvem a concessão de crédito de até R$ 17,7 bilhões.

LIDERANÇA

Hoje a liderança do empréstimo consignado está com a Caixa e o BMG. Juntas, as duas instituições são responsáveis por cerca de 80% do crédito oferecido, afirma Alberto Rigotto, vice-presidente-executivo do BMG. O Banco de Minas Gerais também firmou parceria com a Caixa, na sexta-feira, para cessão de crédito. Como no acordo com o Bradesco, a Caixa vai dispor de mais recursos para o BMG emprestar. Em contrapartida, receberá um prêmio pelas operações.

Para o diretor-executivo do Banco Cruzeiro do Sul, Luis Octavio Índio da Costa, essa onda de bancos maiores no crédito consignado para aposentados tende a reduzir ainda mais as taxas no mercado. Quanto à concorrência, ele afirma não estar preocupado, pois há dez anos o banco é especialista no crédito consignado: "As grandes instituições perceberam o movimento dos clientes pegando empréstimos em outros bancos para pagar dívidas com juros maiores. Por isso, quiseram entrar no mercado."

CONSUMO

O objetivo inicial desse crédito era ofertar aos tomadores a possibilidade de colocar as contas em dia. Mas agora ganhou relevância também para financiar o consumo. É o caso do aposentado Hamilton Gemignani Geraldo, de 63 anos. Com R$ 3.100 de empréstimo consignado, mais uma quantia recebida do governo referente ao Plano Collor, ele trocou sua Parati ano 1983 por um Gol 1989-90. A dívida foi dividida em 24 parcelas de R$ 175, com taxa de juro de 3,2% ao mês. Além do carro, Geraldo usou o dinheiro para fazer algumas reformas na casa, onde vive sozinho. O aposentado afirma que procurou outras modalidade de crédito, mas por causa da burocracia e das exigências não teve sucesso. Por ser descontado direto do pagamento dos beneficiários, os empréstimos também são concedidos a quem tem restrição no crédito.

Ao contrário de Geraldo, a pensionista Irene Maria Paixão de Oliveira, de 57 anos, pegou R$ 1 mil para quitar contas atrasadas de telefone. Mas ela confessa que a dívida tem pesado no orçamento mensal. Da pensão de R$ 280, são descontados R$ 81 todos os meses. O restante que sobra vai para remédios, contas de água, luz e telefone. Irene afirma, no entanto, que foi a única opção. "Não tinha como usar o telefone. Só recebia ligações."