Título: Amorim promete agilizar negociações da Alca
Autor: Denise Chrispim MarinExpedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2005, Nacional, p. A4

Chanceler dá nova versão para discurso de Lula e garante que o assunto nunca saiu da pauta do governo

O ministro da Relações Exteriores, Celso Amorim, prometeu, no encontro com Condoleezza Rice, no Itamaraty, dinamizar as negociações em torno da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). "Achamos que é momento de darmos energia a essa negociação", disse o chanceler brasileiro. A secretária de Estado americana foi ainda mais longe e disse que "a Alca é um dos fatores importante para promover o desenvolvimento da região".

Condoleezza disse que é hora de um esforço conjunto em direção da edificação da Alca. Segundo ela, os entendimentos necessitam de uma nova dinâmica, porém, com a diplomacia necessária para não ferir suscetibilidades, acrescentando que compartilha dos ideais do colega brasileiro.

Em um recado enxuto, Condoleezza lembrou que o governo americano já avançou nos entendimentos em torno da criação de área de livre comércio também na América Central. E, mais uma vez, ressaltou que esse é o caminho para começar a diminuir o empobrecimento da região. "Quanto mais livre comércio, melhor. O livre comércio é importante para que as pessoas tenham acesso aos benefícios nas áreas de saúde e educação", disse.

Mas foi na entrevista coletiva que Celso Amorim se viu pressionado a explicar a posição dúbia do Palácio do Planalto, que ora retira a Alca de pauta e ora a retoma, ainda que de forma retórica. Antes de a secretária americana responder pergunta sobre a posição contraditória expressa pelo presidente Lula em recentes declarações, Amorim se antecipou e procurou explicar o discurso, proferido na quarta-feira da semana passada, no qual o presidente Lula demonstrou a falta de vontade do governo para tocar a Alca adiante. "Eu não me lembro, faz dois anos que não se discute mais a Alca no Brasil porque nós tiramos a Alca de pauta", disse Lula.

Na nova versão, desenvolvida por Amorim, Lula estaria se referindo ao fato de a Alca não ser mais fruto do debate ideológico e garantiu que o tema não saiu da pauta. Condoleezza, mais uma vez diplomática, pareceu disposta a acreditar nas explicações de Celso Amorim. Na questão da Alca, o governo ainda está precisando deixar de lado o contorcionismo retórico e encarar a negociação para valer.