Título: Lula deixa 'eixo do mal' com chefe da Casa Civil
Autor: Tânia Monteiro João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2005, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, mais uma função: a de "facilitador" dos acordos com Venezuela e Cuba - o chamado "eixo do mal" -, principalmente quando há impasse com os Estados Unidos. Dirceu foi escalado para a missão por ter excelente trânsito com os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e de Cuba, Fidel Castro.

O assunto da conversa entre o chefe da Casa Civil e Chávez, no bate-volta de Brasília a Caracas, segunda-feira, foi o fim do intercâmbio militar entre Venezuela e Estados Unidos, que estava em vigor há 35 anos. A decisão de Chávez de encerrar o programa de cooperação entre os dois países irritou a Casa Branca.

Oficialmente, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, afirmou que o Brasil não interfere em assuntos de outros países. "O governo brasileiro não está passando nem recebendo recados", insistiu Garcia, negando que Dirceu tenha tentado fazer o papel de mediador dos EUA nas conversas com Chávez.

"Não temos nenhuma capacidade de intervenção na Venezuela nem vice-versa. Também não vemos razão para incômodo quando um país compra armas", argumentou Garcia, ao ser questionado sobre o fato de a Venezuela enfrentar a ira dos EUA por adquirir 100 mil fuzis russos AK-47, além de navios de patrulha costeira e aviões de transporte militar da Espanha. "Se os EUA têm alguma restrição, que o digam."

Na prática, Dirceu tem assumido a interlocução em questões internacionais que exigem a presença de um ministro mais político. Auxiliares de Lula contam que ele entra, sempre a pedido do presidente, em conversas que também envolvem o relacionamento com partidos de esquerda.

A simpatia entre o chefe da Casa Civil e o presidente da Venezuela é antiga. Foi Dirceu que promoveu a aproximação do PT com Chávez, em 2000, quando presidia o partido. Além disso, até hoje mantém laços de amizade com Fidel Castro, que o acolheu em 1968. Ele morou seis anos em Cuba como exilado político.

No início de março, ao conversar com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, o chefe da Casa Civil tentou fazer com que Washington recuasse do bloqueio a Cuba. Mas não conseguiu.