Título: Último soldado sírio deixa o Líbano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2005, Internacional, p. A11

Cerimônia militar em base perto da fronteira marca o término de 29 anos de intervenção iniciada na guerra civil libanesa A Síria encerrou ontem oficialmente 29 anos de presença militar no Líbano com desfiles e discursos de comandantes libaneses e sírios em uma cerimônia na base de Riyaak, no Vale do Bekaa. Logo depois, os últimos 250 soldados e vários agentes da inteligência cruzaram a fronteira em carros e oito ônibus no posto de controle de Masnaa e foram recebidos com festa nas ruas de Jedeidit Yabous, a cidade síria mais próxima. Entre os oficiais estava o chefe da inteligência militar síria no Líbano, Rustum Ghazaleh. Vários veículos iam decorados com pôsteres do presidente sírio, Bashar Assad. "Adeus a nossos irmãos do Exército Árabe Sírio", gritou um militar libanês na cerimônia. "Adeus. Nunca esqueceremos deles (os militares mortos durante a intervenção). Sacrificamos nosso sangue e nossa alma por você, Bashar", responderam em coro cerca de 250 soldados sírios.

O chanceler sírio, Faruk al-Shara informou a ONU sobre a remoção das tropas, em conformidade com a Resolução 1559 do Conselho de Segurança (ler ao lado), e destacou que elas foram enviadas ao Líbano "a pedido do governo desse país e em cumprimento a um mandato árabe". No texto, a Síria exorta o CS a fazer todo o esforço, com a mesma seriedade e determinação, para implementar as resoluções ainda não cumpridas, entre as quais cita a que pede a completa retirada das forças israelenses das colinas sírias do Golan, das Fazendas de Shebaa e dos territórios palestinos ocupados.

"Ainda não estou em condições de verificar a totalidade da retirada síria", disse o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, salientando que houve progressos. Num relatório ao CS, ele informou ter enviado ao Líbano uma equipe para verificar a remoção das tropas e agentes sírios e relacionou itens não cumpridos, como o desarmamento do grupo xiita libanês Hezbollah (apoiado por Síria e Irã) e a extensão do controle do governo libanês sobre a região sul. Nessa parte do território atua a milícia do Hezbollah.

"Se confirmada, a retirada será um passo decisivo para pôr fim à pesada interferência estrangeira que tem caracterizado a política libanesa por décadas", disse Annan. Os EUA alegam que ainda ficaram agentes sírios no Líbano.