Título: Cardeais já se foram, mas fiéis continuam em Roma
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2005, Vida&, p. A15

Ruas perto do Vaticano ainda estão lotadas e lojas vendem muitos souvenirs do novo papa. Igreja prevê grande presença na primeira audiência geral de Bento XVI, hoje A maioria dos cardeais que participaram do conclave voltou para suas dioceses, as redes de televisão desmontaram sua parafernália de equipamentos e os garis removeram as toneladas de lixo acumuladas durante a missa de inauguração do pontificado no domingo. Fim de festa? Não para milhares de turistas e peregrinos que mantêm na Praça de São Pedro um movimento extraordinário, após a eleição de Bento XVI. Dezenas de pessoas enchem também a vizinha Piazza Cittá Leonina, onde o cardeal Joseph Ratzinger morava, na expectativa de que volte a aparecer, como fez por três vezes na semana passada. Das 7 horas às 17 horas, há sempre uma longa fila para visita ao túmulo de João Paulo II, na cripta da Basílica de São Pedro.

Prevendo uma presença maior que a normal para a audiência geral da quarta-feira - a primeira de Bento XVI -, a administração do Vaticano montou na praça um esquema semelhante ao utilizado nas missas solenes no sagrato (área externa) da basílica.

Se o tempo permitir, será ali que o papa dirigirá uma mensagem aos peregrinos e dará a bênção apostólica. Em caso de chuva, a audiência - que começará às 10 horas (5 horas no Brasil) - será transferida para o Auditório Paulo VI, onde cabem até 10 mil pessoas, ou para o interior da basílica, com lugares para mais de 40 mil.

"O papa João Paulo II encheu as praças, mas não as igrejas. Vamos ver se esse aí traz mais fiéis praticantes", disse diante da basílica a veneziana Tosca Crepaldi, de 79 anos. Orgulhosa de ter assistido às eleições dos cinco últimos papas, de João XXIII, em 1958, a Bento XVI, na semana passada, ela defende a volta a uma linha mais conservadora, em questões morais e na liturgia, "para a Igreja ter bons católicos".

Nas lojas de artigos religiosos, muitas com bandeiras da Santa Sé e da Alemanha hasteadas nas vitrines, os produtos mais vendidos são, além de rosários, os souvenirs com imagem do novo papa: fotos, estojos, chaveiros e sininhos. Continua tendo muita saída também tudo que lembra João Paulo II.

Laboratórios fotográficos credenciados vendem fotos das cerimônias litúrgicas e das audiências. Menos de duas horas depois de cada evento, milhares de amostras podem ser consultadas nas lojas ou em arquivos de computador. Cada cópia custa 4.

No interior do Vaticano, onde há também um escritório para encomenda de fotos, o jornal Osservatore Romano mantém um balcão de venda direta ao consumidor. O diário da Santa Sé, que tem esgotado nas bancas, foi obrigado a lançar várias edições por dia para atender à demanda. No dia do sepultamento de João Paulo II, um exemplar - que custa 0,90 - foi oferecido pelos cambistas por 125 na internet.

Ontem, Bento XVI teve um dia de rotina. Recebeu em audiências três cardeais e o arcebispo Angelo Amato, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, da qual foi prefeito durante 23 anos.