Título: Para Alencar, governo não pode tabelar as taxas de bancos
Autor: Vânia CristinoJosé Ramos
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2005, Economia, p. B1

O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, pediu ontem que a sociedade "faça pressão" e reaja às altas taxas de juros cobradas pelos bancos, chamadas por ele de "assalto". Alencar apoiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atacou o comodismo do cidadão, por não "levantar o traseiro" e protestar contra os juros bancários. "Claro que o presidente tem que denunciar, mas o governo não vai tabelar a taxa de juros dos bancos. Quem tem que se defender é quem paga. Por isso, defendo uma campanha de orientação dos tomadores (de empréstimo) porque eles não sabem onde estão se metendo. Temos de ajudá-los a se defender." O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, também saiu em defesa do presidente. "Realmente as pessoas precisam se levantar e tomar uma atitude", disse Furlan, reclamando que as pessoas só se mobilizam contra alguma coisa, e não a favor. "Quando há uma ameaça como a Medida Provisória 232 (que aumentava impostos de alguns setores) há uma mobilização maciça; quando existem no Congresso 500 projetos, muitos deles essenciais para o desenvolvimento, o crescimento, a mobilização da sociedade é muito tênue", desabafou Furlan. Ele comentou que normalmente quando o setor privado tem um objetivo, luta por ele, mas às vezes a acomodação prevalece.

Alencar disse que o governo deve se esforçar para reduzir a taxa básica de juros (Selic), hoje fixada em 19,5% e classificada por ele de "despropósito". O vice-presidente voltou a culpar os juros altos definidos pelo Banco Central pelo engessamento do Orçamento, o que, segundo ele, dificulta não apenas a recuperação das Forças Armadas, mas também investimentos em educação, saúde, saneamento e recuperação de estradas. "Não temos recursos orçamentários pois a principal rubrica é destinada às taxas de juros com que rolamos a dívida, só que elas são 12 vezes superiores à taxa média cobrada por 40 países", disse o vice. Na sexta-feira, Alencar havia dito que os juros altos dificultam o reajuste dos militares.