Título: 'Concorrência entre bancos é ilusão¿
Autor: Patrícia Campos MelloRicardo Leopoldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2005, Economia, p. B4

Para especialista, só quem não precisa de dinheiro consegue juros mais baixos Concorrência entre os bancos é uma ilusão, afirma o advogado que trabalha na área de direito bancário, João Antonio César da Motta. Para o especialista, as taxas cobradas no mercado são muito parecidas e, transferir a conta de um banco para outro, além da burocracia, exige gastos extras.

É fácil para o consumidor encontrar um banco que ofereça juros menores?

É uma ilusão achar que há concorrência no segmento bancário. Seria leviandade dizer que é um cartel, pois os bancos não combinam preços, mas o fato é que as taxas são muito parecidas. Só tem taxa menor para aplicadores ou para quem não precisa, por exemplo aqueles clientes que não usam o limite do cheque especial. Mas a maioria usa sistematicamente e, para esses clientes, o custo é alto.

Qual a diferença média, hoje?

Pelos dados do site do Banco Central, com taxas cobradas no período de 6 a 24 de abril, a diferença entre a maior e a menor taxa seria de R$ 8 para quem tem uma dívida de R$ 1 mil no cheque especial. É um montante sem expressão principalmente para quem precisa pegar condução, ir ao banco, pagar as tarifas de abertura de conta e realizar o depósito mínimo.

Transferir a conta de uma instituição para outra seria uma alternativa?

Não, porque os bancos cobram taxas de abertura de conta como Atestado de Idoneidade Financeira (R$ 15) e Pesquisa Cadastral (R$ 15), entre outras. Além disso, normalmente há um limite mínimo de depósito inicial. Na Caixa Econômica Federal, por exemplo, é de R$ 100. Em alguns bancos privados é de R$ 500. Outro problema é que, hoje, o comércio em geral leva muito em conta o período em que o correntista mantém a conta bancária. Essa data está impressa no cheque. Muitos lojistas só aceitam cheques pré-datados de quem tem a conta há mais de um ano.

Qual seria a alternativa?

Uma delas é o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) fiscalizar esse mercado, assim como fiscaliza as empresas, para evitar a concentração e o abuso do poder econômico. Uma saída seria limitar a margem de rentabilidade, pois os bancos ganham muito dinheiro. Mas isso dificilmente vai ocorrer porque o governo federal precisa dos bancos para movimentar suas máquinas públicas.

O que o sr. acha da frase do presidente Lula?

Parece que os ares de Brasília têm algo de alucinógeno...