Título: BNDES corta spread para setor produtivo
Autor: Patrícia Campos MelloRicardo Leopoldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2005, Economia, p. B4

Banco quer estimular investimento e provocar 'choque de produtividade' O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou ontem um pacote de medidas para estimular os investimentos e provocar um "choque de produtividade" na indústria. O grupo de medidas, com validade até dezembro, inclui redução de juros (de 0,5 ponto porcentual a 2 pontos), limite pré-aprovado para financiamento de grandes empresas e diminuição de algumas exigências, que beneficiarão também exportadores e pequenas empresas. O presidente do banco, Guido Mantega, disse que a mudança é para elevar a competitividade das empresas e não porque os desembolsos do banco no primeiro trimestre representaram só 15% da meta de liberações de R$ 60 bilhões prevista para o ano.

Mantega também disse que os spreads bancários (remuneração que é resultado da diferença entre o custo de captação e de empréstimo do dinheiro) no País são "um absurdo" e não há motivo para isso aconteça. Ele explicou que o custo de financiamento acaba sendo muito superior do que o custo básico do dinheiro e disse que havia justificativa para isso. "Hoje você tem uma economia que dá mais segurança, inclusive ao setor financeiro. Então deve ser feito um esforço de todos para a redução da taxa de spread."

Segundo Mantega, o "BNDES está fazendo sua parte reduzindo o nosso spread dando espaço para que os bancos privados sigam".

Com o pacote, no Modercarga, programa de financiamento de caminhões, a redução do spread é de 2 pontos, reduzindo o custo total de 17% para 15% ao ano.

Para o Modermaq, programa para as linhas de máquinas e financiamento, que também tinha desempenho insatisfatório, o spread encolherá de 1,25% para 0,25%, reduzindo o custo total de 14,95% para 13,95% ao ano. O nível de participação do banco nos financiamentos em pesquisa e desenvolvimento subirá de 65% para 100%.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton Mello, disse que "além do efeito prático, a redução sinaliza a importância do investimento produtivo para o governo, quando ele mesmo abre mão das suas margens".

O diretor de Competitividade da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho, disse que a decisão foi uma "surpresa positiva", mas argumentou que é preciso reduzir ainda mais os encargos financeiros.

O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, também fez ressalvas: "Medidas dessa natureza serão sempre bem-vindas, mas ainda limitadas diante das grandes necessidades do País."

Mantega assegurou que as medidas não vão comprometer os resultados do banco. "O objetivo do banco não é dar lucro, mas viabilizar o crescimento, dar financiamento mais barato. É claro que não vamos realizar nenhuma loucura, trabalhar com taxas negativas, resultado negativo, senão o banco iria afundar." O BNDES, garantiu, continuará com "margem razoável de lucro".