Título: É inútil pesquisar taxas, diz Febraban
Autor: Patrícia Campos MelloRicardo Leopoldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2005, Economia, p. B4

'Margem de lucro dos bancos é muito baixa, eles não têm como dar grandes descontos', justifica economista da federação de bancos Não adianta "levantar o traseiro" para pesquisar, porque as taxas de juros dos bancos não variam muito. Contrariando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou o comodismo dos consumidores que não procuram taxas de juros menores, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) afirma que as taxas não diferem muito conforme o banco. "A margem de lucro dos bancos é muito baixa, de 7,5%, portanto as instituições não têm como dar grandes descontos. Não adianta sair por aí pesquisando, as taxas são praticamente iguais em todos os bancos", diz Roberto Luis Troster, economista-chefe da Febraban. Segundo Troster, os consumidores podem até procurar melhores opções de crédito dentro do mesmo banco, trocando crédito pessoal por empréstimo consignado, por exemplo. Mas trocar de banco não adianta muito, diz. De acordo com ele, a única maneira de reduzir o custo do dinheiro no Brasil é diminuir a carga tributária, os entraves legais, o crédito direcionado, o compulsório e a informalidade.

Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, a baixa oferta de crédito na economia é a principal razão dos juros elevados. "Hoje, a oferta de crédito é muito pequena, equivalente a 26,7% do Produto Interno Bruto, enquanto que na Bolívia é de 55% do PIB, no Chile é de 60%, na China de 120% e na média internacional atinge 100%", comentou. "E o volume de crédito é reduzido especialmente porque os juros básicos, que estão em 19,5% ao ano, são muito altos e levam os bancos a trocar sua atividade fim, que é o empréstimo aos clientes, para comprar títulos públicos, que são rentáveis e bem seguros."

Para Oliveira, é um engano imaginar que as taxas de juros de produtos como cheque especial, cartão de crédito e financiamentos para pessoas físicas não baixam por causa de comodismo dos clientes. "Há uma realidade, determinada pela lei da oferta e procura: como há poucos recursos disponíveis circulando pelo País para empréstimos, o custo para obtê-los pelos cidadãos é elevado."

De acordo com o executivo, o governo poderia dar uma grande contribuição para a queda dos juros com a redução das taxas cobradas hoje pelos bancos oficiais, especialmente o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. "As taxas cobradas pelo BB e CEF não são muito diferentes das praticadas pelas companhias privadas", comentou. "Como essas instituições federais são responsáveis por uma parcela de 15% do crédito emprestado na economia, se reduzissem os juros pela metade colaborariam muito para forçar as empresas privadas a diminuir suas taxas."

Segundo Oliveira, no cheque especial o Banco do Brasil cobra taxas mensais que variam de 2,10% a 8,08%, enquanto que na CEF tais juros ficam entre 2,06% e 7,71%. No Itaú, as taxas ficam entre 3,28% e 8,52%, no Unibanco oscilam entre 3,62% e 8,48% e no Bradesco ficam entre 3,19% e 8,38%. "Falta no mercado brasileiro mais competição, pois a maior parte dos clientes está trabalhando com poucos bancos, um problema de elevada concentração que foi apontado recentemente até pelo FMI. "