Título: Com Lula 'é só amor¿, diz Severino
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2005, Nacional, p. A5

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), aproveitará a carona oficial a Roma no Aerolula para tentar fazer as pazes com o governo. Pivô da crise política que suspendeu as negociações para a reforma ministerial, o deputado integrará a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve sair de Brasília na quinta-feira para acompanhar o funeral do papa João Paulo II.

Católico fervoroso, Severino só estava esperando o convite de Lula para unir-se ao grupo, também integrado pelos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim. Até hoje, o deputado jura de pés juntos que nunca teve interesse em passar para a oposição. Nem mesmo quando, há 13 dias, ameaçou aliar-se ao PFL caso Lula não nomeasse um afilhado seu para o Ministério.

Em conversa com o ministro da Casa Civil, José Dirceu, na semana passada, Severino negou ter agido por vingança ao incluir rapidamente na pauta da Câmara a Medida Provisória 232 - que aumentava o imposto de prestadores de serviço -, mesmo sabendo das dificuldades do Planalto para a votação. "Eu não tenho ódio, não tenho vingança, só tenho amor", afirmou. Na prática, sua estratégia é ambígua: em público, diante dos eleitores, ele aumenta o tom contra o governo, mas nos bastidores tenta a reconciliação.

"É preciso que haja harmonia e entendimento entre os Poderes", resumiu o presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE). "Deixamos claro que não precisamos de ministério para votar com o governo." O líder do PP na Câmara, José Janene (PR), lembrou que o partido ajudou o Planalto na estratégia de obstruir a votação da MP 232, impedindo a oposição de cantar de galo e vencer a queda-de-braço para aprovar apenas a "parte boa" da medida, que corrige em 10% a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física.

CONFUSÃO

"Não queremos brigar com o presidente Lula, que já está com a base de sustentação muito frágil", garantiu Janene. O líder assegurou que o PP não exigirá contrapartidas. "Meu partido me designou para participar das negociações sobre cargos e, com essa delegação, digo que não queremos nada. Toda essa confusão da reforma ministerial foi muito ruim para nós."

De qualquer forma, Lula eximiu a articulação política e a base aliada de responsabilidade pelos erros de cálculo na tramitação da MP 232. Depois da derrota, o governo foi obrigado a recuar da "maldade": editou uma nova medida revogando o aumento de imposto para os prestadores de serviço e salvou a correção da tabela do IR para impedir a oposição de capitalizar a bondade.

Em reuniões nos últimos dias com líderes dos partidos aliados, Lula mostrou contrariedade com a Fazenda e a Receita, que, na sua opinião, conduziram mal o assunto. Mais: disse que a equipe econômica embutiu na MP, sem maiores explicações, iniciativas que não poderiam ser enviadas à Câmara sem debate com a sociedade, como o aumento de tributos.

"O que mais me dói é que a MP como estava só atingia 220 mil pessoas jurídicas. Mas, infelizmente, acabou ficando conhecida como MP dos Tributos", lamentou o relator da Carlito Merss (PT-SC).