Título: Projetos de transporte no BNDES superam os R$ 15 bi
Autor: Irany Tereza, Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/04/2005, Economia, p. B6

O BNDES tem em carteira - contratados ou prestes a terem contrato assinado - projetos de transporte e logística que somam R$ 15,6 bilhões, dos quais R$ 6,4 bilhões financiados pelo banco. Este volume de recursos começou a ser analisado em 2004, dentro de uma linha diferenciada de tratamento, que elevou estes segmentos à categoria de prioridade depois que um estudo técnico, concluído em outubro, identificou os principais gargalos de infra-estrutura que impedem melhor desempenho de outros setores. Há casos em que o banco iniciará uma nova metodologia de empréstimo que, de certa forma, antecipa o que prevêem as Parcerias Público-Privadas (PPPs). Exemplo disso é a fabricação de equipamentos para transporte ferroviário. Em vez de financiar as concessionárias, com as quais o banco já está excessivamente exposto, o BNDES empresta dinheiro aos usuários das ferrovias.

O raciocínio é simples: uma empresa encomenda a produção de vagões que servirão para escoar suas mercadorias. Utiliza, no contrato, dinheiro financiado pelo banco. Repassa à ferrovia os vagões, obtendo, em troca, desconto no frete em contratos de longo prazo pelo mesmo período estipulado para o financiamento (em torno de dez anos). A garantia do banco é o contrato entre concessionária e usuário.

O Grupo Caramuru, maior processador de soja de capital nacional do País, é um exemplo da aplicação da tese das PPPs. Para contornar um problema logístico, a empresa está investindo R$ 33 milhões na aquisição de locomotivas e vagões que já estão sendo operados pela Brasil Ferrovias, entre o terminal multimodal de Pederneiras (SP) e o Porto de Santos, num acordo de longo prazo.

O vice-presidente da empresa, César Borges de Sousa, diz que antes o grupo investiu no próprio terminal portuário, com a promessa de transporte ferroviário até Santos com a Ferroban (concessionária controlada pela Brasil Ferrovias). "Mas houve muita dificuldade de cumprimento do contrato (de transporte por ferrovia). Percebemos que seria mais fácil investir nas locomotivas e vagões", resume o executivo.

Pelas estatísticas do BNDES, o volume de recursos das consultas para obtenção de empréstimos em projetos de transportes terrestres aumentou 144% no primeiro bimestre, em relação ao mesmo período do ano passado, e soma R$ 844 milhões. Uma parte desse incremento se deve à nova forma de tratamento e também a algumas facilidades oferecidas nos empréstimos.

O chefe do Departamento de Transporte e Logística do BNDES, Rômulo Santos, explica que projetos de equipamentos de transporte eram avaliados no âmbito da Finame, programa que prevê a participação do banco em até 50% do projeto e fixa prazo de pagamento máximo de 5 anos, passaram a ser tratados de forma diferenciada - duplicação de prazo de pagamento para 10 anos, ampliação da parcela financiada pelo banco de 50% para 80% e redução nos juros.

A área de Logística, que em 2000, na gestão de Carlos Lessa, havia sido fundida com Energia e Telecomunicações, formando o Departamento de Infra-Estrutura, será novamente separada, para dar um tratamento prioritário aos projetos.

O presidente da Fundição Tupy, Luiz Tarquínio, comenta que foi procurado por Santos com a proposta de que a fundição, que exporta e abastece o mercado interno com motores de automóveis, passasse a produzir a armação de sustentação de vagões. A peça, conhecida como truck, é de ferro fundido. A Tupy já fez um protótipo e espera iniciar produção no ano que vem, com financiamento do banco e compromisso de compra firme por clientes. "Este setor é muito cíclico. Por isso, para entrar no negócio, tem de haver garantias", disse.