Título: Severino e Alencar se aliam na guerra contra o Banco Central
Autor: Eugênia Lopes James Allen
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2005, Nacional, p. A4

Presidente da Câmara volta a defender mudanças no Copom e vice prega participação do setor produtivo na decisão sobre juros O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), saiu ontem de reunião de mais de uma hora com o vice-presidente José Alencar com o discurso afinado de aliado na guerra contra a taxa de juros. Na quarta-feira, Alencar apoiara a proposta de Severino de tirar do Comitê de Política Monetária (Copom) a exclusividade sobre a definição dos juros. Ontem, ele passou a defender a ampliação do Conselho Monetário Nacional (CMN) para incluir representantes do setor produtivo. Severino saiu do encontro dizendo o mesmo: "Deve haver maior participação de segmentos produtivos do País na hora de decidir a taxa de juros. Pode haver modificação." Severino fez questão de lembrar que o vice foi o "primeiro a guerrear" contra as altas taxas de juros. "Eu o acompanhei e vou nessa luta até o fim. Porque a sociedade não pode ser tão castigada como está sendo em benefício só dos banqueiros. Os banqueiros têm de dar um paradeiro em seus altos lucros", reclamou. "O vice afirmou que está ao lado da posição que assumimos, de que o empresariado, a população não pode pagar essas altas taxas de juros."

Alencar disse que mudou sua proposta porque havia respondido a repórteres sem conhecer as declarações de Severino. "Sobre o Copom se faz muita confusão, se pensa em conselho de política monetária. Mas o Copom é um órgão eminentemente técnico", disse, referindo-se ao fato de que é o CMN que estabelece a meta de inflação e o Copom, do Banco Central, define a taxa de juros, tentando cumprir essa meta.

"É necessário um órgão acima do Copom que trace a filosofia da política econômica." Para o vice, o CMN poderia ter cinco integrantes a mais - que poderiam ser do setor produtivo, das regiões do País e até mesmo dos trabalhadores -, além dos ministros da Fazenda e do Planejamento e do presidente do BC. "É preciso uma representação setorial e regional, como ocorre nos Estados Unidos."

De acordo com Severino, tanto ele como Alencar são intérpretes do pensamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, na segunda-feira, atribuiu os altos juros à comodidade da população, que "não levanta o traseiro" para buscar condições melhores em outros bancos. "O presidente Lula não está alheio a essa questão. Ele deu abertura para que fôssemos seus intérpretes. Ele falou para não ficarmos sentados e nós não ficamos. Vamos ajudá-lo." Mais tarde, ele insistiu em que está colaborando com o governo ao defender a queda dos juros. "O presidente da República disse que (os brasileiros) não deviam ficar sentados e sim lutando para que os juros não fossem tão altos. Ele (Lula) está sendo solidário com a posição do vice-presidente e do presidente da Câmara."

Anteontem, Severino criou comissão para estudar como tirar do Copom a competência de tratar da taxa básica de juros, a Selic. "Acredito que o ministro da Fazenda vai sentir e vai mostrar ao presidente do Banco Central que não está certo essas taxas de juros escorchantes, que inviabilizam o desenvolvimento do País", afirmou após falar com Alencar.