Título: Para Lula, País vive fase de contradição na economia
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2005, nacional, p. A5

De um lado sobem os juros, para conter a inflação, e de outro se dá crédito, com expansão de linhas de financiamento, diz ele Depois de dar declarações polêmicas em relação à política de juros no início da semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em entrevista a um programa jornalístico de TV da Central Única dos Trabalhadores (CUT), chamado Repercute, que o Brasil vive "um momento (econômico) extraordinariamente contraditório". De um lado, segundo ele, o governo adota uma "política monetária dura", com juros altos, para segurar a demanda e controlar a inflação. De outro, porém, há uma "forte política de crédito", com a expansão de linhas de financiamento à pessoa física, como o microcrédito ou o crédito consignado.

Na entrevista de 30 minutos feita pelo presidente da CUT, Luiz Marinho, que irá ao ar no sábado, às 22 horas, na TV Bandeirantes, Lula justificou a política econômica do governo. "É que, de um lado, você aumenta os juros para tentar conter a demanda, do outro se injeta dinheiro na economia via crédito consignado", declarou o presidente, depois de ouvir de Marinho sugestão para que vários setores sejam chamados para recomendar métodos de controle da inflação e cheguem a um consenso.

"Se alguém quiser chamar de pacto, que chame Se alguém não quiser chamar, que não chame. Não importa", afirmou. "O dado concreto é que se nós quisermos controlar a inflação em função das coisas que você disse aqui é preciso mais do que juros."

NÃO AOS JUROS ALTOS

Reiterando a idéia lançada por ele mesmo de que os brasileiros devem "levantar o traseiro da cadeira e buscar juros mais baratos", o presidente disse às pessoas que fazem empréstimos que "não aceitem" pagar juros altos. "Vi outro dia banco cobrando 7%. Ao mês, dá mais de 100% ao ano, então não aceite isso. Você pode até mudar a sua conta, ou seja, deixe de receber em tal banco e proponha mudança para um banco que ofereça juros mais baratos."

AUMENTO DE PREÇOS

Em seguida, Lula criticou os que aumento os preços sem motivo. "No Brasil tem gente que na hora que começa a vender um pouco mais fica doidinho para aumentar os preços, quando devia ser o contrário", reclamou, recomendando que "se está vendendo mais unidades, reduza o preço, porque vai ganhar pela quantidade que vende".

EXPORTAÇÕES

Lula comemorou, ainda, o bom resultado das exportações e salientou que o País não exporta apenas a produção do agronegócio."Hoje nossas exportações de produtos manufaturados e semimanufaturados já são 48%", contou, observando que nestes dois anos o Brasil diversificou muito as exportações. "O que está acontecendo de importante é que não há contradição entre o crescimento das exportações e o crescimento do mercado interno", disse. "O mercado interno continua e, se você pegar os dados do mercado interno varejista, ele continua crescendo, as pessoas continuam comprando,"

CRESCIMENTO

Ele disse trabalhar por um ciclo sustentável de crescimento. "Eu acho que nós queremos construir uma política que torne o modelo sustentável por um ciclo de 15 ou 20 anos, que não seja uma coisa mais, como nós dizemos no interior 'temporã', uma coisa que aparece e depois desaparece, como nós já fomos pegos de surpresa muitas vezes, muitas vezes", explicou, referindo-se aos muitos planos econômicos que o País teve.

Lula ressalvou que seu governo está atuando "sem criar sobressaltos" na sociedade. "Muitas vezes você não pode fazer aquilo que as pessoas acham que seria o mais fácil de fazer, ou o melhor a fazer naquele momento, porque você não tem resposta do que vai acontecer seis meses depois", argumentou. "Então a solidez dos passos que a gente dá é a garantia de que a gente vai ter um crescimento contínuo, vai ter crescimento em 2005, em 2006, em 2007, em 2008, até que a gente estabeleça no Brasil uma cultura antiinflacionária."