Título: PFL quer espaço para César
Autor: DORA KRAMER
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2005, Nacional, p. A6
Bornhausen acha que direito de resposta em cadeia nacional repara dano da intervenção Embora o prefeito e pré-candidato à presidência da República pelo PFL, César Maia, tenha dito que buscaria reparação à intervenção federal no sistema de Saúde do Rio de Janeiro, pedindo, entre outras providências, o impeachment do presidente Luiz Inácio da Silva, não é este o entendimento do presidente do partido, senador Jorge Bornhausen.
Para ele, eficaz mesmo para a recuperação do dano político, depois que o Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional o ato do Ministério da Saúde, seria a concessão do direito de resposta para que César Maia pudesse falar em cadeia nacional de rádio e televisão, como fez o ministro Humberto Costa em março, ao anunciar a intervenção.
"Se o governo federal usou horário nobre para dar publicidade a um ato ilegal, por dever de justiça acho que temos o direito de ocupar o mesmo espaço para dar conhecimento à Nação a respeito da ilegalidade cometida."
Bornhausen argumenta que a decisão do STF teve alcance muito mais reduzido que o pronunciamento do ministro Humberto Costa, "expondo a todo o País o prefeito César Maia como um mau administrador".
Segundo o senador, houve um impacto negativo para o prefeito do Rio de Janeiro, medido por pesquisas internas feitas pelo PFL. Essas mesmas consultas registraram uma subida de 42% para 80% no índice de conhecimento de César Maia no plano nacional.
"É claro que é positivo o fato de hoje o dobro de pessoas conhecerem o candidato, mas não se pode negar que o conhecimento foi de uma face negativa e, como baseado numa ação declarada inconstitucional, acho que temos condições de recuperar isso."
O PFL ainda vai decidir hoje os detalhes da ação contra o governo, mas a posição de Bornhausen deve prevalecer, por ser mais realista.
Objetivamente, um pedido de impeachment não tem chance de ir a lugar algum. Mais não fosse porque à oposição interessa cumprir o calendário em vigor.
E politicamente o direito de resposta, se concedido, seria o melhor palanque que qualquer pré-candidato da oposição à Presidência poderia jamais sonhar a um ano de meio da eleição.
Desempenho global
O papel de chanceler itinerante é a terceira missão especial que o ministro José Dirceu recebe no governo.
A primeira, a articulação política, naufragou já na escolha do interlocutor autorizado junto ao Congresso Nacional, o senhor Waldomiro Diniz.
Da segunda, a gerência administrativa, nunca mais se falou, bem como se ignoram notícias a respeito da produção dos inúmeros conselhos, grupos de trabalho e comissões coordenados pelo ministro.
Nada impede que a terceira tentativa dê certo.
"Way of life"
Episódio protagonizado pela ex-embaixadora dos Estados Unidos no Brasil Donna Hrinak, quando servia na Venezuela, diz algo sobre a política externa norte-americana e explica muito a respeito da recente preocupação do país com Hugo Chávez.
Donna conversava com um grupo de parlamentares brasileiros de passagem por Caracas, de volta de viagem a Cuba, e, a certa altura, passou-se a comentar as parlapatices populistas de Chávez.
"Os Estados Unidos não se preocupam com discursos, na América Latina há hablaciones demasiadas", explicou a diplomata.
"E quando é que um presidente começa chamar atenção dos Estados Unidos?", quis saber o deputado Paulo Delgado (PT-MG), que agora relata o encontro.
"Quando não fala muito, quando pára de falar ou quando começa a comprar e vender coisas", ensinou Hrinak.
Chávez continua em suas "hablaciones", mas agora começou a comprar armas.
Exceção
O presidente Lula passou o dia de ontem em preparação intensiva para a entrevista coletiva que dará hoje. Teve atenção especial de Duda Mendonça e foi sabatinado por assessores no molde dos simulados feitos com candidatos às vésperas de debates eleitorais.
Louvável o empenho do presidente em preparar-se previamente - para qualquer situação -, mas injustificável tanto espalhafato em torno de uma entrevista, em tese ato que já deveria estar integrado ao cotidiano do presidente da República com dois anos e quatro meses de mandato.
Segundo sentido
O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman, diz que não entendeu um trecho de artigo sobre as críticas aos juros em que Severino Cavalcanti é citado e Goldman, referido como "discípulo" posando ao lado dele.
Segundo o tucano, nunca posou ao lado de Severino, "muito menos como discípulo". Além do mais, afirma, se opôs à sua idéia de rever as atribuições do Comitê de Política Monetária.
O líder não entendeu mesmo. A frase não tinha um sentido literal, buscava só traduzir sua recente, e conveniente, aliança com Severino Cavalcanti.
O deputado Goldman pode fazer oposição com o senso de oportunidade que bem lhe convier. Só não pode ter a pretensão de passar despercebido.