Título: Força promete fazer o pior 1.º de Maio de Lula
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2005, Nacional, p. A7

O 1.º de Maio vai se transformar no mais contundente ato de protesto já realizado contra o presidente Lula e sua política econômica. "Vamos falar muito duro contra o governo", anuncia Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, agremiação que reúne 1,8 mil sindicatos e um universo de 16 milhões de trabalhadores. Com o tema Mais empregos, menos impostos, a Força planeja arrastar cerca de 1,7 milhão de pessoas para a festa do Dia do Trabalhador em São Paulo. "Convidamos o Lula para que ele possa ver um pouco a realidade de perto, mas ele não tem coragem de aceitar", provoca Paulinho. "O Lula acha que resolveu os problemas do Brasil, mas a cúpula em volta dele não o deixa ver que a situação é desesperadora, desemprego crescendo, renda em baixa e economia paralisada. A situação do presidente é muito ruim, principalmente depois que ele falou que a culpa dos juros é do povo. Passou dos limites."

Faz parte da estratégia de mobilização da Força atrações que incluem sorteio de 10 carros zero quilômetro, cinco apartamentos e 10 aparelhos de TV. Vão animar a multidão Kelly Key, Roberta Miranda, sertanejos, Severino Cavalcanti, presidente da Câmara, e governadores - pelo menos cinco já confirmaram presença, entre eles Geraldo Alckmin (SP), Aécio Neves (MG) e Germano Rigotto (RS). O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, o prefeito da capital, José Serra, e o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Claudio Hummes, foram convidados.

"Vamos bater na política dos juros, na carga tributária e nas conseqüências disso", declara Paulinho. "Não tem estrada, a ponte cai e ninguém arruma, a saúde virou um caos, a produção não anda." Para ele, no governo Lula os sindicatos enfraqueceram pela crise do desemprego, embora muitos sindicalistas, a começar pelo presidente, tenham assumido importantes cargos na administração.

MORDOMIAS

"Os sindicatos perderam poder de negociação e os sindicalistas que chegaram ao poder esqueceram das origens. Houve uma acomodação no governo Lula. Os sindicalistas foram lá, alguns levaram as mulheres e entraram na maior mordomia. É meio parecido com o que aconteceu na Rússia, intelectuais trabalhadores que traíram os seus princípios. A cúpula vivia muito bem, comia nos melhores restaurantes, como acontece agora no Brasil."

Para o líder sindical, Serra - a quem Lula derrotou nas eleições de 2002 - "faria uma política econômica melhor que a do Lula". Paulinho avalia que "mesmo num eventual segundo mandato ele (Lula) não terá coragem de tomar medidas como a renegociação da dívida interna porque os banqueiros estão nadando de braçada enquanto essa turminha que assumiu o governo, incluindo o Palocci, entrou no embalo deles."