Título: Contra Alca, a Alba de Chávez e Fidel
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2005, Internacional, p. A12

Presidentes assinam acordos bilaterais e lançam sua alternativa de integração econômica do continente, sem os EUA Em meio à intensificação da retórica contra os EUA, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e seu colega cubano, Fidel Castro, assinaram ontem vários acordos bilaterais de comércio e cooperação, como parte do lançamento da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), em contraposição à Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A Alba, que exclui os EUA, "já foi lançada desde agora. Está em desenvolvimento, estamos em pleno desenvolvimento", disse Chávez, que chegou quarta-feira à noite a Havana para visita de dois dias. "Ambos os países vão demonstrar o que é uma integração verdadeiramente justa, uma integração liberadora, uma integração em benefício dos dois povos", declarou Fidel na terça-feira.

Chávez e Fidel inauguraram ontem o primeiro escritório em Havana da gigante petrolífera Petróleos de Venezuela (PDVSA) e subscreveram vários acordos sobre eletricidade, petróleo, saúde e educação. Os acordos incluem também um projeto para a construção de um centro de armazenamento de combustíveis residuais na Província de Matanças, cerca de 100 quilômetros a leste de Havana, com capacidade para 600 mil barris diários, informaram os dois governos.

Também estava prevista a inauguração de um escritório do Banco Industrial de Venezuela, que se encarregará de promover a exportação de produtos venezuelanos para Cuba. Será a primeira financeira completamente estrangeira na ilha a obter autorização para operações de empréstimos, cartas de crédito, transferência de fundos e financiamentos de importações e exportações.

O convênio firmado também envolve o aprofundamento dos estudos de exploração e perfuração no Golfo do México com a estatal Cuba Petróleo (Cupet), assim como um projeto para a conclusão de uma refinaria iniciada pelos soviéticos na Província de Cienfuegos, no sul da ilha, para processar petróleo venezuelano para o mercado caribenho.

"Estamos instalando uma base de operações em Cuba", disse na quarta-feira o ministro venezuelano de Energia e Petróleo, Rafael Ramírez. A Venezuela está enviando entre 80 mil e e 90 mil barris diários de petróleo a Cuba a preços preferenciais, bem acima dos 53 mil barris acertados em 2000.

Com este aumento de fornecimento de petróleo à ilha, a Venezuela se tornou no principal pilar do crescimento da debilitada economia cubana que, segundo Fidel, está começando a recuperar-se agora do "período especial" pelo qual passou após a queda da União Soviética. Fidel e Chávez encerrarão hoje a primeira reunião bilateral da chamada Alba - uma estratégia de integração entre países em desenvolvimento do continente firmada em dezembro por ambos os líderes.

KALASHNIKOV

A Venezuela anunciou ontem que fabricará cartuchos para fuzis russos AK 101, 102 e 103, que poderão ser comercializados mundialmente "segundo o direito soberano do país". O secretário da Comissão de Defesa da Venezuela, general Melvin López, disse que a munição não poderá ser usada por grupos armados da região, pois são de calibre distinto. Os EUA já haviam manifestado sua preocupação pela compra de 100 mil fuzis Kalashnikov, helicópteros russos, navios de patrulha espanhóis e aviões de treinamento brasileiros.