Título: Tomar vitaminas pode trazer mais prejuízos que benefícios
Autor: Simone IwassoCláudia Ferraz
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2005, Vida&, p. A17

Sociedade de Geriatria está preocupada com uso crescente de suplementos vitamínicos e outras substâncias Vitamina não é remédio, não previne doenças, não retarda sinais de envelhecimento e não deve ser administrada em altas doses por longos períodos, sob risco de trazer mais prejuízos do que benefícios ao organismo. O alerta vem da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, que, preocupada com o uso indiscriminado de vitaminas e antioxidantes, tem feito uma campanha nos órgãos de vigilância e fiscalização de práticas médicas e venda de substâncias. O objetivo é restringir a propaganda e a prescrição desses coquetéis como tratamentos, por ainda não terem ação suficientemente comprovada pela ciência. O assunto é polêmico e divide até mesmo os profissionais da saúde. Enquanto atrizes e personalidades dão declarações sobre os benefícios de tratamentos com cápsulas e mais cápsulas diárias de vitaminas, médicos que seguem a chamada linha ortomolecular defendem que com a ingestão dessas substâncias é possível reequilibrar o organismo e combater o envelhecimento.

Segundo o Conselho Federal de Medicina, a proposta é sedutora, mas inócua. Tanto que existe uma resolução do CFM, de 1998, que proíbe que médicos receitem doses excessivas de vitaminas e de antioxidantes para melhorar o estado de pacientes, promover terapias antienvelhecimento e anticâncer ou para tratar de patologias degenerativas. Segundo a resolução, "são métodos destituídos de comprovação científica suficiente quanto ao benefício para o ser humano sadio ou doente".

"Está havendo uma proposta sedutora de impedir o envelhecimento e prevenir doenças por meio de vitaminas e antioxidantes. Mas fala-se muito sobre um assunto que se conhece pouco", afirma o geriatra Alberto de Macedo Soares, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e orientador do Ambulatório de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Ele explica que a prescrição dessas substâncias parte do fato de que elas são necessárias e têm função importante no metabolismo e na realização das funções básicas do corpo humano, além de ter efeito sobre os radicais livres, produzidos pelo organismo e associados ao envelhecimento. No entanto, segundo o geriatra, "não é porque em doses fisiológicas elas são benéficas e necessárias que em superdosagens elas seriam melhores ainda".

"As vitaminas são muito importantes no metabolismo celular, mas somente em doses fisiológicas, ou seja, nas doses que o organismo necessita diariamente. Não servem como remédio, como uso terapêutico. A suplementação só é importante para pessoas que estão realmente doentes e com carência de alguma vitamina específica. Para todo o resto é placebo", explica o médico Luiz Erlon Araújo Rodrigues, professor de bioquímica médica da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e autor do livro Vitaminas - Verdades e Mitos.

Ele cita exemplos do exagero. "A famosa vitamina C, por exemplo. Nós precisamos de 10 miligramas por dia. Um dos comprimidos mais receitados tem 400 miligramas. Esse uso por um período prolongado pode provocar problemas no fígado", afirma. O mesmo acontece com a vitamina E, complexo B e selênio, por exemplo. "Em um livro famoso, um médico indica 1.500 miligramas de vitamina B6, o que equivale a 750 vezes a necessidade de um homem adulto. Antes, acreditava-se que o excesso era eliminado na urina, mas estudos mostram que pode afetar determinados órgãos e até favorecer aparecimento de doenças, porque existe uma influência e uma sobrecarga no organismo", complementa. A receita, segundo ele, é comer alimentos variados - esses, sim, fornecedores naturais das vitaminas de que todos precisam diariamente.

Mas quem trabalha na área defende a prática. "Num primeiro momento todas as células são tratadas para regular o corpo e também há uma orientação na nutrição da pessoa", diz o médico ortomolecular Douglas Carignani. Em uma consulta, segundo ele, analisa-se a vitalidade das células por meio de um estudo do cabelo, que mostra o equilíbrio ou desequilíbrio de metais e minerais no organismo - diagnóstico que será depois corrigido com a prescrição de inúmeras cápsulas de aminoácidos, vitaminas e minerais.

As críticas ao tratamento são vistas por ele como vaidade dos profissionais. "Os médicos acham que não há algo a mais ou melhor que suas receitas. E também existe falta de conhecimento. A medicina ortomolecular usa o que tem de mais avançado", justifica.

"A moça lá de casa achava que eu não ia durar muito de tanto remédio que eu tomava. Na verdade eram vitaminas que ajudam a revitalizar o organismo", conta a artista plástica Maria Cecília de Almeida, de 44 anos, que procurou a medicina ortomolecular ao sentir sintomas de depressão e ter medo de ficar dependente de antidepressivos.

Na receita recebida, estava a ingestão de um tipo de soro uma vez por semana, um sachê três vezes por dia e mais uma série de outras vitaminas. "Eu não gosto de engolir aquelas cápsulas enormes. Então, a maior parte de meus medicamentos era em pó. Era um sachê que eu podia misturar na água em qualquer lugar", conta ela, que parou o tratamento após alguns meses, não pela quantidade de remédios, mas pelo alto preço. "É um tratamento caro, mas em dois meses eu já me sentia melhor."