Título: Copom mantém o suspense Copom mantém o suspense
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2005, Economia, p. B2

O Comitê de Política Monetária (Copom) tinha a difícil tarefa de explicar por que na reunião de abril frustrou a expectativa criada na reunião anterior e aumentou em 25 pontos porcentuais a taxa Selic. A ata da 107.ª reunião, divulgada ontem, certamente terá decepcionado os que esperavam uma explicação convincente e mantém total suspense quanto à decisão que pode ser tomada na reunião de maio. A ata que vem de ser divulgada contém um comentário importante: a perspectiva de manutenção da taxa de juros básica, por um período suficientemente longo de tempo, não assegura a convergência da inflação para a trajetória de metas. Com isso o colegiado dá um recado ao governo: ele precisa dar uma mão ao Banco Central para conter as pressões inflacionárias.

Os membros do Copom reconhecem que existe uma desaceleração da atividade econômica (que parece não lhes desagradar), mas insinuam que ela não é tão pronunciada no plano internacional, o que explicaria a persistência de pressões inflacionárias.

Cumpre, aliás, notar que a ata dá grande destaque aos problemas externos, para justificar o suspense que produz a sua leitura. Foi diante das incertezas acerca da evolução do preço do petróleo, da direção que o Fed dará à taxa de juros nos Estados Unidos e das conseqüências para os países emergentes da má situação financeira de algumas grandes empresas norte-americanas que o Copom elevou a taxa Selic para prevenir novos problemas.

Diante das "explicações" das autoridades monetárias, não se pode esconder um certo mal-estar: o Copom terá sempre novos argumentos para justificar a alta da taxa de juros básica. Ontem, era o medo de um excesso de demanda; amanhã, será uma decisão do Fed; depois, será o excesso de gastos públicos.

Antecipar a decisão que o Copom tomará em maio é tarefa impossível. O que parece imprescindível é que o Copom abra a discussão sobre a eficácia de uma alta da taxa de juros básica para respeitar uma meta excessivamente ambiciosa fixada pelo Conselho Monetário Nacional. Tudo indica que não passa pela cabeça dos membros do Copom que uma taxa Selic elevada é também um fator não desprezível de alimentação da inflação, além de aumentar a dívida interna, o que garante aos bancos uma remuneração segura e alta, que não favorece o setor produtivo.