Título: Cresce desconforto com Jucá e Lula exige que PMDB assuma sua defesa
Autor: Christiane Samarco, João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2005, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai cobrar do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), providências do PMDB para acabar com o desconforto seu e do governo com o envolvimento do nome do ministro da Previdência, Romero Jucá (PMDB-RR), em denúncias de corrupção e financiamento público fraudulento. Segundo um ministro do círculo íntimo de Lula, as seguidas denúncias contra Jucá puseram o ministro numa espécie de "sinal amarelo", ou seja, o cargo dele está a perigo. Lula quer que o PMDB, responsável pela indicação do senador para o ministério, assuma de vez a defesa do ministro, o que não tem sido feito. A idéia é aproveitar a companhia de Renan durante as 12 horas de vôo de Brasília a Roma, na quinta-feira, rumo aos funerais do Papa João Paulo II, para cobrar que o PMDB se manifeste de público e com clareza sobre Jucá. O presidente do Senado bancou Jucá na reforma ministerial.

Apesar do claro desconforto, o Palácio do Planalto tem agido com prudência no caso. Um dos articuladores políticos do governo afirma que nenhuma acusação feita até agora surpreendeu o Planalto, que havia sido alertado da existência das denúncias pelo próprio senador. Jucá também admite que a situação é desconfortável para ambos, uma vez que se vê obrigado a responder às denúncias.

"Como esta situação não se esclarece no bate-boca com quem quer que seja, o que estou pedindo é que a Polícia Federal apresse a conclusão das investigações que envolvem meu nome e, tenho certeza, esclarecerão de vez que as denúncias contra mim não têm fundamento", disse Jucá, ao exibir cópia de ofício em que pede para ser investigado, entregue ao Procurador-Geral da República, Cláudio Fonteles, no último dia 29.

Na avaliação do ministro, as acusações são "parte do jogo político", de uma disputa alimentada por "componentes locais" e adversários políticos em Roraima. O ofício menciona o inquérito sobre irregularidades na aplicação de verbas públicas no município de Cantá (RR), na periferia de Boa Vista, e a operação de empréstimo tomada pela empresa Frangonorte, da qual Jucá foi sócio, junto ao Banco da Amazônia (Basa).

Em ambos os casos, o ministro afirma que está à disposição do Ministério Público para prestar os esclarecimentos. Jucá vai atrás de Fonteles novamente esta semana, levando os documentos que seus advogados reuniram para tentar pôr um ponto final nas acusações.

METAS

"O que o governo quer são resultados na Previdência e o que me comprometi a fazer, em conversa com o presidente Lula, será feito", disse o ministro.

Jucá afirma que está "fechando o cerco" aos devedores da Previdência e, a despeito das denúncias, sua meta de reduzir este ano em R$ 8 bilhões o déficit previdenciário de R$ 40 bilhões não será afetada.

"Este mês já vamos bater recorde de arrecadação", prometeu. E fez uma previsão: vai ter muito devedor nervoso nos próximos dias.

O ministro está fechando um acordo com o Banco Central para a "extensão automática" no Cadastro de Inadimplentes do BC (Cadin) dos devedores da Previdência. A idéia é que isto passe a ser feito on line, por um processo informatizado, impedindo qualquer devedor de tomar créditos em bancos oficiais.

Ontem, Jucá almoçou com dirigentes do Banco do Brasil para acertar procedimentos que acelerem a cobrança de débitos administrativos. "Quero trabalhar com a estrutura pública para que possamos cruzar dados e cadastros e, assim, obter rapidez nas cobranças", explicou o ministro.