Título: Lula oferece mais espaço a Quércia por apoio em 2006
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2005, Nacional, p. A6
Esquentou o namoro do governo com o PMDB. Na tarde de ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma longa conversa com o ex-governador Orestes Quércia, no Palácio do Planalto, e propôs a ele uma aliança estratégica com três objetivos: assegurar a governabilidade, fechar dobradinhas nos Estados e garantir a reeleição em 2006. Lula acenou com a possibilidade de mais espaço político para o partido e parceria em projetos. Depois de 1h40 de tête-à-tête, Quércia saiu do Planalto visivelmente mais sorridente do que quando entrou. "O PMDB pode se unir mais no apoio ao governo Lula", afirmou. Questionado sobre a possibilidade de casamento de papel passado com o PT, na disputa de 2006, o ex-governador - que também comanda o PMDB paulista - adotou um discurso mais ameno. "Essa questão de candidatura a presidente está um pouco longe e eu acho que o partido deve ter candidato próprio. Da minha parte, isso é irreversível. Mas também é importante ampliar essa conversa."
Na tentativa de cativar a ala rebelde do PMDB, Lula entrou pessoalmente na operação. Há duas semanas reuniu-se com o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP). Ao mesmo tempo, despachou para São Paulo o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que fez o primeiro contato com Quércia. Por ordem de Lula, o presidente do PT, José Genoino, também conversou duas vezes com Temer, nos últimos dias. "Estamos na fase da paquera", resumiu Genoino.
VICE
Tanto afago tem feito até mesmo os mais insatisfeitos aceitarem novas rodadas de diálogo. "A interlocução com o governo deve ser ampliada, envolvendo também os seis governadores do partido", argumentou Temer. Lula disse a ele e repetiu a Quércia, ontem, que marcará nova conversa com os peemedebistas. Mais: afirmou que, se tivesse o PMDB unido, poderia até dispensar outros aliados, como o PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE).
Na prática, Lula quer o PMDB de vice em sua chapa à reeleição, destronando o PL de José Alencar. Para tanto, está disposto até mesmo a sacrificar candidaturas petistas a governos estaduais.
"O PMDB é a peça-chave para a composição dos eixos da aliança de 2006", disse ministro Aldo Rebelo. "É um fator de desequilíbrio estratégico: se pender para o eixo formado por PSDB e PFL tem um peso; se inclinar-se para o lado do PT e seus aliados tem outro. Então, para onde pender define a correlação de forças."
O governo não deu mais um ministério ao PMDB - atualmente, o partido comanda Comunicações e Previdência -, mas deve contemplar a sigla com diretorias de estatais e cargos nos Estados. Da ala governista, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que também é importante dotar os aliados de verbas orçamentárias. "É o instrumento para a execução de políticas públicas", insistiu.
Quércia observou que PMDB e PT têm "objetivos comuns" para o crescimento do País. Na única crítica que fez ao Planalto, o ex-governador pediu mais ousadia à política econômica. "Nós apoiamos o governo, mas queremos que ele ouse mais na questão do crescimento. Eu disse isso ao presidente. Existe a possibilidade de termos um projeto nacionalista, brasileiro, que não é a receita do Fundo Monetário Internacional (FMI)", comentou.
O presidente do PMDB paulista saiu do Planalto jurando não guardar mágoa do PT pelo fato de ter sido preterido pela ex-prefeita Marta Suplicy como vice de sua chapa à reeleição, no ano passado. A verdade, porém, é que ele ficou muito irritado e só agora - de olho na candidatura ao governo - pode voltar às boas com o PT.