Título: Preso o primeiro atirador da chacina
Autor: Rodrigo Morais, Roberta Pennafort
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2005, Cidades, p. C1

Foi preso ontem o primeiro policial militar apontado formalmente como um dos autores da chacina que deixou 30 mortos na quinta-feira, em Nova Iguaçu e Queimados, Baixada Fluminense. O soldado Carlos Jorge Carvalho, do 20.º Batalhão (Mesquita), foi reconhecido ontem à noite na Delegacia de Homicídios da Baixada, pelo parente de uma das pessoas assassinadas em Queimados. Ainda ontem, o secretário da Segurança Pública do Rio, Marcelo Itagiba, e o superintendente da Polícia Federal, José Milton Rodrigues, anunciaram a criação de uma força-tarefa para desarticular grupos de extermínio que agem na região da Baixada. A Secretaria da Segurança divulgou a prisão de Carvalho por meio de nota. "O policial do 20.º Batalhão é o primeiro reconhecido como autor do crime. Um outro policial, do 24.º Batalhão (Queimados), fora reconhecido como um dos homens que voltaram ao local do crime para recolher cápsulas dos projéteis disparados contra as vítimas", diz o texto.

A testemunha, informou a nota da secretaria, disse à polícia que, dos 4 homens que participaram do assassinato de 12 pessoas em Queimados, Carvalho era o único que não usava capuz. Na tarde de ontem, com um mandado de busca e apreensão, a polícia encontrou um Gol roubado na casa do soldado. Ao ser reconhecido, portanto, Carvalho já estava preso administrativamente, autuado em flagrante por receptação. Com ele, sobe para 12 o número de policiais detidos.

Desse grupo fazem parte sete policiais, de Queimados e de outras unidades, detidos em caráter administrativo - entre eles um oficial, o tenente Roberto Assis. Pelo que já foi levantado até o momento, eles não estariam implicados diretamente no massacre, mas podem ter acobertado a ação dos assassinos. Mesmo assim, serão submetidos a reconhecimento pelas testemunhas.

OUTRO CRIME

Pelo menos um dos PMs presos (a polícia não revela qual) teria envolvimento em outro crime: o assassinato da vendedora de jóias Mara Valéria Moreira, de 41 anos, e do filho dela, Enil Fagundes Neto, de 21 anos, em dezembro. Eles foram abordados na Via Dutra por quatro homens e desapareceram em seguida. O ex-vereador de Nova Iguaçu José Rechuen, marido de Mara, foi chamado a prestar esclarecimentos sobre o caso.

A hipótese mais forte para a chacina é de que ela tenha sido uma represália às modificações feitas nos comandos dos quatro batalhões da Baixada, para coibir desvios de conduta. Outra possibilidade é a de que os grupos de extermínio da região estejam disputando território e tenham matado 30 pessoas numa demonstração de força.

A força-tarefa anunciada ontem por Itagiba e pela PF pretende aproveitar informações que surgirem no decorrer das investigações da chacina para desarticular bandos que agem na Baixada há anos. Outras áreas que também sofrem com a ação desses grupos são o município de São Gonçalo, no Grande Rio, e a zona oeste da capital.

SOBREVIVENTES

A comerciante Kênia (o Estado não publica o nome completo para garantir a segurança de testemunhas), de 27 anos, que levou um tiro na boca em Nova Iguaçu, continua internada no Hospital da Posse e teve melhora de domingo para ontem. Baleado na coxa direita, outro sobrevivente da chacina, Leovaldo, de 44, seria submetido no início da noite de ontem a cirurgia. Ele não corre risco de vida.