Título: Superávit pode bater recorde de 2004
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2005, Economia, p. B3

O saldo comercial em 2005 pode superar o recorde de US$ 33,7 bilhões de 2004, a julgar pelo andar da carruagem das projeções do mercado financeiro. "Muito possivelmente será superior aos US$ 34 bilhões, e talvez cheguemos aos US$ 35 bilhões", diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Já o CS First Boston, em relatório divulgado ontem, comunica que "por enquanto" mantém a previsão de US$ 30 bilhões, mas que há "riscos positivos". Traduzindo o jargão, isto significa que o banco pode reajustar para cima sua projeção, como o mercado financeiro todo vem fazendo, velozmente. No início do ano, a previsão média era de US$ 26,5 bilhões. Três meses depois, saltou para US$ 29,5 bilhões. Como vem acontecendo de forma sistemática nos últimos anos, as instituições financeiras e consultorias fazem projeções de crescimento muito medíocre do saldo e das exportações, e à medida que o ano em questão vai avançando, "surpreendem-se" repetidamente com o vigor do comércio exterior brasileiros, e vão puxando para cima suas previsões.

Esse comportamento é generalizado, e fica refletido nas previsões médias sobre os principais indicadores da economia brasileira que o Banco Central coleta semanalmente em bancos, empresas financeiras e consultorias.

O histórico das previsões para 2005 ilustra bem o padrão. No início de 2004, quando o comércio exterior brasileiro já estava em pleno boom, a média das projeções para 2005 era de saldo de US$ 18,6 bilhões e de exportações de US$ 79,4 bilhões. Seis meses depois, a previsão subira para US$ 24,2 bilhões, e US$ 88 bilhões.

No início do ano, foram conhecidos os resultados espetaculares de 2004: saldo de US$ 33,7 bilhões, com crescimento de 36% ante 2003, e exportações de US$ 96,5 bilhões, com expansão de 32%. A reação do mercado? A previsão de início de janeiro era de que o saldo em 2005 cairia para US$ 26,5 bilhões, e as exportações cresceriam só 4%, para US$ 100,34 bilhões - o que significa supor uma freada brusca depois do crescimento de 32% em 2004, e de 21%% em 2003. Agora, as projeções já evoluíram para US$ 29,55 milhões de saldo e US$ 105,3 bilhões de exportações.

Ontem, o Bradesco e o CS First Boston divulgaram relatórios otimistas sobre o ritmo de crescimento do saldo e das exportações. O Bradesco nota, por exemplo, que nos últimos 12 meses o saldo já atinge US$ 35,9 bilhões, e que em abril este mesmo indicador deve chegar a US$ 37 bilhões. Em outras palavras, o acumulado em 12 meses teria de sofrer um tombo de US$ 7,5 bilhões para que a atual previsão média do mercado para o resultado final de 2005 se confirmasse.

A estrela do comércio exterior no primeiro trimestre foram os produtos manufaturados, segundo o Bradesco. Dos US$ 5 bilhões a mais que o Brasil exportou de janeiro a março, comparado com igual período de 2004, US$ 3,9 bilhões, ou 78% daquele total, foram ganhos com os manufaturados. Aparelhos celulares tiveram um aumento de 172% em relação a março de 2004.

Barros lembra que o Bradesco está na linha de frente da correção para cima das projeções de saldo e exportações. Para o economista, o principal fator que vem levando o mercado a errar as projeções é a economia mundial, cuja pujança está fortemente correlacionada com o boom exportador, e que insiste em permanecer aquecida, contra previsões de especialistas no mundo inteiro.

Barros também diz que muitos no mercado financeiro subestimaram a mudança cultural do exportador brasileiro. Sérgio Ramalho, diretor-comercial da Mármores e Granitos Royal, exportadora de produtos acabados de rochas ornamentais do Rio, e que aumentou sua parcela de exportações de 5% para mais de 15% em dois anos, confirma a impressão: "Superamos nossa própria meta na base de fidelizar os clientes, repetindo e ampliando os negócios".