Título: 'Eu fico no papel de fechar as contas. Não é fácil nem gostoso'
Autor: Rita Tavares, Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2005, Economia, p. B4

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, afirmou ontem que a carga tributária no Brasil só vai cair quando houver uma redução no déficit da Previdência. Segundo o ministro, o Brasil tem uma enorme conta previdenciária e o governo faz muita transferência de renda. Segundo ele, é preciso reduzir o déficit para que a situação seja menos penosa para a sociedade a longo prazo. "Eu fico lá nesse papel de ter de fechar as contas. Não é um papel fácil nem gostoso", afirmou Palocci em entrevista no Programa do Jô, que seria exibido na noite de ontem.

O ministro afirmou que está consciente da insatisfação popular em relação à carga tributária. Segundo ele, toda a revolta provocada pela MP 232 é, na realidade, uma reação à carga tributária no Brasil, que "está no limite".

Mas Palocci condicionou uma redução efetiva da carga tributária brasileira à diminuição dos gastos do governo com custeio e com os pagamentos da Previdência Social. "O governo tem de trabalhar para reduzir seus gastos", completou o ministro, fazendo questão de frisar que é contrário aos cortes nos gastos na área social.

Em 30 minutos de conversa, o ministro mesclou assuntos de economia, como a decisão do Brasil de não renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), com a sugestão de que o atacante Robinho seja escalado no time de titulares da Seleção brasileira

Perguntado por Jô sobre a perspectiva de solução para o problema do desemprego, Palocci admitiu que a taxa somente cairá drasticamente após um período de crescimento contínuo de cinco a dez anos. Segundo ele, países que conseguiram isso reduziram a taxa para um patamar em torno de 5%. Hoje, o desemprego brasileiro está em cerca de 10%.

CANDIDATURA

O ministro voltou a afirmar que o Brasil está mais preparado para enfrentar uma eventual crise externa. "A economia está mais musculosa para enfrentar crises externas", afirmou, listando em seguida uma série de indicadores que demonstram a melhor situação do País. De qualquer forma, Palocci disse que torce para que não haja adversidades externas.

Jô Soares afirmou que tem ouvido rumores sobre uma possível candidatura de Palocci ao governo de São Paulo. "Esse boato só pode ter partido de alguém que não gosta de mim", brincou Palocci.

Segundo ele, ao aceitar o convite para o ministério em 2002, teria avisado ao presidente Lula de que o partido devia esquecê-lo para eleições. "Esqueçam de mim para ser candidato a qualquer coisa. Eu não posso cortar gastos e cuidar de popularidade de outras coisas."