Título: Exportadores exigem queda do real
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2005, Economia, p. B1

Um grupo de 23 associações empresariais lançou ontem um manifesto contra o dólar baixo. Os exportadores querem que o Banco Central (BC) volte a comprar dólares no mercado, medida que foi interrompida no dia 16 de março, e continue a fazer os leilões de swap cambial reverso, que também foram suspensos. O manifesto foi entregue na noite de quarta-feira ao ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e ao presidente do BC, Henrique Meirelles. "O ânimo do exportador está abalado por causa do câmbio valorizado", afirmou Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). "A ausência do BC do mercado é que fez o dólar cair de R$ 2,75 para R$ 2,60 (fechou em R$ 2,596 ontem). "

Segundo ele, os setores mais afetados pela queda do dólar são calçados e têxteis. "Por causa do câmbio, ficamos menos competitivos e estamos perdendo contratos para a China", disse Élcio Jacometti, presidente da Abicalçados. Segundo ele, foram demitidas 5 mil pessoas no Rio Grande do Sul, por causa do câmbio.

Mas, apesar das reclamações dos empresários, a exportação de manufaturados continua crescendo, com exceção das vendas de calçados. "Para quem olha os recordes de exportações, pode parecer que os empresários são chorões; mas sabemos que o bom desempenho só acontece graças ao espírito dos exportadores para cumprir contratos", disse Josué Gomes da Silva, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). "O Brasil está perdendo o ímpeto exportador. Com esse câmbio, os empresários nem pensam em investir em exportação."

Segundo empresários, as exportações de hoje são resultado de contratos firmados no ano passado. "O governo acha que tudo está bem porque as exportações continuam crescendo, mas esquece que essas coisas têm ciclos", disse Benedito Moreira, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Além das medidas imediatas, os empresários propõem a criação de linhas de crédito pré-embarque à exportação com "funding" em reais. Atualmente, os Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACC) usam recursos captados de bancos estrangeiros e repassados por bancos nacionais. Giannetti propõe que sejam criados ACCs em real, que usam recursos de bancos no Brasil, cobrando uma taxa de juros mais a variação do dólar. Segundo ele, isso evitaria a antecipação do fluxo de entrada de câmbio e seus efeitos de apreciação cambial. O manifesto pede também que as linhas de financiamento à importação passem a ter prazo máximo de 30 dias. Segundo eles, essas linhas foram desvirtuadas e são usadas para ganhos financeiros. "A empresa vende o produto no mercado interno, investe no mercado financeiro para aproveitar os juros por 11 meses e só depois paga o financiamento da importação."