Título: SP briga para atrair montadoras
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2005, Economia, p. B4
O governo de São Paulo começou esta semana a liberar créditos acumulados pelas montadoras em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A primeira beneficiada será a Ford, que espera para hoje a publicação da medida no Diário Oficial. O recurso será liberado em parcelas e deve ser usado na ampliação da capacidade produtiva da fábrica de motores em Taubaté e de caminhões em São Bernardo do Campo. A Ford também estuda a produção de dois novos carros na fábrica do ABC. A decisão da matriz deve ser anunciada nos próximos meses. Projeto da montadora prevê investimentos de R$ 357 milhões até 2007. Em crédito acumulado com exportações, a Ford tem a receber R$ 347,9 milhões.
Nas próximas semanas devem ser liberados R$ 520 milhões para a DaimlerChrysler aplicar em modernização e ampliação da fábrica de caminhões, ônibus e motores em São Bernardo. A Volkswagen também aguarda verbas de R$ 259,5 milhões para a produção do Fox Europa no ABC. Já o projeto da General Motors para São Caetano e São José dos Campos, que tem créditos de R$ 550 milhões, ainda está em andamento.
Os quatro projetos somam investimentos de R$ 1,796 bilhão e os créditos do ICMS devem cobrir 90% desse montante. O secretário da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo, João Carlos Meirelles, disse que o programa, criado no fim do ano passado, serve para estimular novos investimentos no Estado, que perdeu participação na produção total de veículos.
Pela primeira vez desde a chegada da indústria automobilística, São Paulo respondeu por menos da metade de tudo o que o setor produziu. Das montadoras instaladas no Estado saíram no ano passado 49,4% dos veículos nacionais, participação que em 1990 era de 74,8%. A perda de espaço se deve à descentralização das fábricas, que a partir dos anos 90 começaram a se expandir para regiões como Bahia e Rio Grande do Sul.
Meirelles informou que a liberação dos créditos vale para todos os setores. Por enquanto, somente as quatro montadoras apresentaram propostas, mas uma grande empresa de alimentos deve enviar projeto em breve. São Paulo é o único Estado que está liberando esses créditos. "A medida está atrelada à geração de empregos e renda e ampliação da produção", disse o secretário. Não há, entretanto, porcentuais estipulados.
Para Meirelles, a medida é um incentivo para as montadoras investirem no Estado, mas não está diretamente vinculada à perda de espaço no setor automobilístico. "Não é uma ação que se assemelhe à guerra fiscal", ressaltou, referindo-se aos incentivos dados por vários Estados para atrair novas montadoras.
São Paulo ainda é o maior fabricante de carros do País, mas sua participação cai ano a ano (ver quadro). Em 2003, estava em 52,8%. No passado, ficou abaixo de 50%. O mesmo ocorre com Minas Gerais que, em 1990, respondia por 24,5% da produção. No ano passado caiu para 20,2%.
Ambos perdem para os Estados que até dez anos atrás não tinham tradição no setor automobilístico. O Paraná, que abrigava a Volvo e no fim dos anos 90 recebeu as fábricas da Renault e da Volkswagen/Audi, teve sua fatia ampliada de 0,5% para 9,9% em 14 anos.
Só com a Ford, que inaugurou uma fábrica em 2001, a Bahia é o quinto maior produtor de carros, com 8,65% de participação na produção total, que em 2004 foi de 2,2 milhões de veículos. O Rio de Janeiro responde por 4,7% e Goiás por 0,8%. Nenhum dos três aparecia no mapa produtivo de 1990.
O Rio Grande do Sul, escolhido pela GM para a fábrica do Celta, participa com 6,4% da produção, ante 0,2% em 1990, ano de comparação escolhido pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
As empresas de autopeças seguem suas principais clientes. Há dez anos, 86,3% estavam instaladas em São Paulo. Hoje, o Estado abriga 72,5% delas, segundo dados do Sindicato Nacional dos Fabricantes de Autopeças (Sindipeças).