Título: Operação de guerra para escapar dos jornalistas
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2005, Economia, p. B5

BRASÍLIA-Envolvido em denúncias de supostos sonegação fiscal, crime contra o sistema financeiro e crime eleitoral, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, preferiu sair escondido pela porta dos fundos do Ministério da Fazenda, ontem, a se encontrar com jornalistas que cercavam as três entradas do prédio principal e do anexo. A operação de retirada mobilizou seguranças do BC e da Fazenda, funcionários do gabinete do ministro Antonio Palocci e brigada de incêndio. Por quase uma hora, os seguranças que sempre acompanham o presidente do BC tentaram, sem sucesso, retirá-lo do prédio sem que fosse visto. Após intensa movimentação de carros do BC entre as várias portas da Fazenda, Meirelles conseguiu sair por uma porta de vidro raramente usada, nos fundos da entrada principal de funcionários do ministério.

Meirelles usou o carro de seus seguranças, que serve de escolta ao veículo oficial da presidência do BC. A porta que foi aberta para a saída de emergência só é usada ocasionalmente - na maior parte das vezes, para a passagem de cabos de TV quando há transmissões ao vivo de coletivas de imprensa no auditório.

Meirelles reuniu-se com Palocci ontem para discutir a estratégia do governo diante das denúncias. Ele foi orientado a não falar sobre as supostas irregularidades de que é acusado, por uma questão ainda sub judice. A avaliação é que as denúncias são velhas e já foram suficientemente explicadas.

O governo considera que o presidente do BC deve falar ao Congresso, não necessariamente na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, onde foi convidado a comparecer. O mais provável é que ele fale com senadores e deputados no dia 26, quando participará de reuniões conjuntas de comissões da Câmara e do Senado para falar dos resultados do BC no segundo semestre de 2004. A reunião é formal e cumpre uma exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal.

De passagem pelo Ministério da Fazenda, para uma reunião na Receita Federal, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) estranhou a confusão. E aproveitou para criticar os parlamentares do PSDB. "É estranho que a oposição esteja fazendo barulho em torno do pedido de abertura desse assunto. Mais barulho deveríamos estar fazendo nós (o governo). Condenados em 1.ª instância, há vários dirigentes do BC do governo passado e não estamos tecendo comentário", afirmou.

A senadora afirmou que o assunto Meirelles está sendo tratado com tranqüilidade no governo. "Estamos no estado de direito que pressupõe inocência até que provem o contrário." Ela negou que o governo esteja fazendo tratativas para evitar o depoimento de Meirelles à Comissão de Fiscalização do Senado, e destacou que houve um convite, não convocação. "No Senado, temos tido bom senso de convidar."