Título: Brasil vai em busca de recursos na reunião do BID
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2005, Economia, p. B6

O governo brasileiro iniciou ontem sua participação na reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) determinado a alcançar três objetivos. Os dois primeiros são oficiais: pressionar por maior rapidez na mudança do perfil dos financiamentos concedidos pelo organismo, tornando-os mais acessíveis, e vender o País a investidores estrangeiros que participam do evento, em maioria japoneses. Nos bastidores, o chefe da delegação brasileira, ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, tentará articular a candidatura do economista João Sayad, hoje vice-presidente para o setor de Finanças do BID, para suceder o comandante da instituição, o uruguaio Enrique Iglesias.

Logo após desembarcar em Okinawa, Bernardo disse que o Brasil, com apoio de outros países da região, reivindica que os financiamentos para programas abrangentes sejam intensificados, em contraste aos investimentos em projetos específicos.

Esse enfoque, apesar de ter prosperado no BID nos últimos anos, enfrenta resistência de alguns países, como os Estados Unidos, que consideram alto o risco de fracasso desses empréstimos e teme que as exigências para a concessão desses créditos sejam leves demais. Bernardo vai sugerir o aumento dos créditos concedidos ao setor privado. No caso do Brasil, somam US$ 368 milhões.

O País também pressiona pela flexibilização dos prazos de amortização e juros dos empréstimos tradicionais concedidos pelo BID, inclusive os de emergência. Devido ao volumoso endividamento contraído no passado, em 2002 e 2003, o fluxo líquido de recursos entre a América Latina e o banco foi negativo.

Segundo o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, José Carlos Miranda, nos últimos dois anos o País pagou US$ 3, 5 bilhões líquidos ao BID e recebeu cerca de US$ 800 milhões. "Os financiamentos precisam ter prazos maiores e juros menores", defendeu. O Brasil, afirmou, tem uma carteira potencial de financiamentos junto ao BID nos próximos cinco anos que se aproxima dos US$ 5 bilhões, que deveria ser usada.

O total dos empréstimos do banco concedido ao setor público da América Latina era de US$ 49,8 bilhões em dezembro passado. O Brasil é o principal devedor, com um saldo de US$ 10,5 bilhões, seguido pela Argentina, com US$ 8,6 bilhões.

A reunião do BID servirá também para o governo brasileiro realizar um road show paralelo à programação oficial, para promover o País junto a investidores e analistas internacionais. O secretário do Tesouro, Joaquim Levy, e o diretor do Departamento de Relações Internacionais do Banco Central, Alexandre Schwartsman, iniciam hoje uma bateria de encontros em que destacarão as melhoras dos fundamentos macroeconômicos do País.

Mas o reduzido número de participantes na reunião deve limitar o impacto do trabalho da equipe. Entre as autoridades que devem participar, os destaques são o príncipe Naruhito, do Japão, e o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe.

SUCESSÃO

A sucessão de Iglesias no BID é o tema preferido das conversas no centro de conferências de Okinawa e do Hotel Laguna Garden, que abriga a delegação brasileira. Há dois meses, o governo trabalha pela candidatura de Sayad. Mas ninguém fala publicamente sobre o assunto pois Iglesias não oficializou a decisão de sair do cargo que ocupa há 17 anos.

Em 2004, Iglesias sinalizou que pretendia sair do cargo antes do fim do mandato, para assumir o comando de uma nova entidade. Mas o plano pode ter sido adiado, pois circulava o rumor de que ele pretende revelar seus planos só em junho.

Sayad não quer falar sobre o tema, mas o governo está otimista com a viabilidade de seu nome para o comando da instituição. Um dos argumentos dos brasileiros é que o país nunca teve o comando do banco. Os observadores não estão tão seguros sobre o favoritismo do brasileiro. Colômbia, México e Chile, entre outros, têm candidatos. O elemento decisivo pode ser os EUA, com maior poder de voto na instituição.