Título: Consumo de eletricidade é recorde com calor
Autor: Alaor Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/04/2005, Economia, p. B9

O consumo de energia elétrica atingiu novo recorde em março - o terceiro consecutivo -, com média diária de 47.318 megawatts (MW) médios, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A média do mês passado representa variação de 6,9% em relação à março do ano passado e mostra claramente que o consumo está em novo patamar. Há um ano, o consumo médio estava em torno de 44 mil MW médios. O consumo total de março atingiu 35.205 GWh, também recorde na história do País. O presidente da distribuidora Ampla, que atua no interior fluminense, Marcelo Llévenes, atribui parte do aumento do consumo à maior temperatura dos últimos meses. Segundo ele, em fevereiro e março a temperatura média nas regiões Sul e Sudeste ficou 2 a 3 pontos acima da registrada em igual período do ano passado, o que eleva a demanda do consumidor residencial. Ele considera, porém, que o aumento do consumo é generalizado, refletindo também um forte aumento do setor industrial. "O mercado realmente está crescendo forte", resumiu.

Em um ano, pelos dados do ONS, a média aumentou cerca de 3 mil MW médios acima do observado no início do ano passado o que indica que o setor "engoliu" uma capacidade instalada próxima a 4 mil MW de potência nos últimos 12 meses, reduzindo a ociosidade do setor. A capacidade instalada no País, pelos dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) era de 75.547 MW de potência no final do ano passado - 66.321 MW de hidrelétricas, 7.219 MW de usinas térmicas tradicionais (carvão, gás natural e derivados de petróleo) e 2.007 MW das centrais nucleares. Além disso, o País usou o direito de importar outros 8.170 MW referente a Itaipu, do Paraguai e da Venezuela.

Outro sinal de aquecimento do mercado são os "picos" de consumo, cada vez maiores. No última quinta, por exemplo, a região Sudeste registrou novo recorde com uma "demanda instantânea" de 37.538 MW, 10 mil MW acima da média diária de consumo.

No Sul, os reservatórios das hidrelétricas estão no menor nível dos últimos 4 anos, enquanto o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) continua vertendo água no Sudeste e até no Nordeste, por causa do excesso de água nas hidrelétricas das regiões. Isso, apesar de o ONS fazer transferências maciças de energia do Sudeste para o Sul, em torno de 3.400 MW diários, o limite de segurança das linhas de transmissão entre as duas regiões. Como o Sudeste é a grande "caixa d'água" do País, especialmente Minas Gerais, os oficiais afastam a possibilidade de racionamento de energia, mesmo que a seca continue no Sul. é provável que os reservatórios do Sul recuperem água no período úmido, que começa neste mês, e comecem a "devolver" energia para o Sudeste.

Pelos dados do ONS, a média dos reservatórios do Sul era de 36,66% ontem. No no Sudeste/Centro-Oeste a média era de 86,30%; no Nordeste, de 95,50%; e no Norte, de 92,88%. À exceção do Sul, esses patamares são os melhores registrados no País nos últimos 10 anos.