Título: Prejuízo da Varig recua 95% em 2004
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/04/2005, Economia, p. B16

A Varig reduziu em R$ 1,7 bilhão seu prejuízo em 2004. Segundo o balanço financeiro da companhia, divulgado ontem, as perdas foram de R$ 87,1 milhões, um recuo de 95% na comparação com o saldo negativo de R$ 1,8 bilhão no balanço de 2003. O patrimônio líquido negativo, porém, cresceu 1,3%, ao passar de R$ 6,35 bilhões para R$ 6,44 bilhões. "O prejuízo melhorou em função do resultado da atividade e por causa da variação cambial, que foi benéfica para a companhia", diz o diretor de Controladoria e Relações com Investidores da Varig, Ricardo José Bullara.

Para o mercado, no entanto, a explicação para a redução das perdas da empresa não é tão simples.

Especialista em aviação da Pentágono, Marcelo Ribeiro explica que a empresa fez lançamentos de itens no balanço, como ajustes no programa de milhagem Smiles, que geraram ganhos não recorrentes - que tendem a não se repetir posteriormente - de R$ 60 milhões. "Se não fosse esse ajuste contábil, as perdas seriam de R$ 147 milhões", avalia. "Houve uma redução no prejuízo por causa de ajustes contábeis. Não mudou nada, não tem nenhum tipo de alteração", acrescenta outro analista de investimentos que pediu para não ser identificado.

A insuficiência de fluxo de caixa para pagar despesas foi ratificada no balanço divulgado ontem. O resultado operacional da Varig em 2004 ficou positivo em R$ 457,7 milhões, com crescimento de 36,3% ante o desempenho do ano anterior, de R$ 335,6 milhões. As despesas, em contrapartida, ficaram em torno de R$ 569,6 milhões, uma diferença de R$ 111,9 milhões desfavorável para a empresa.

A receita líquida total teve expansão de 11,4%, ao somar R$ 8,85 bilhões. "A Varig tem uma dívida enorme, que não a deixa ter um bom lucro. Mas o resultado operacional é muito bom", diz o analista de renda variável do ING Bank, Ricardo Fernandez, que acompanha aviação há sete anos.

O endividamento, que somou R$ 5,68 bilhões no fim de 2004, recuou 4,3% em relação a 2003 (R$ 5,94 bilhões). Há, ainda, R$ 1,014 bilhão contingenciado que, segundo Bullara, não entrou no balanço. Para ele, se houvesse um encontro de contas com o que o governo deve à companhia, o patrimônio líquido negativo poderia ser zerado. Pelo cálculo do executivo, só as perdas geradas pelo congelamento de tarifas entre 1985 e 1992 chegam a R$ 3 bilhões. Se forem levados em conta créditos devidos de ICMS, são mais R$ 1,2 bilhão.

Bullara sustenta, ainda, que a Varig poderia ganhar mais R$ 2,2 bilhões por ano, caso fosse lucrativa e pudesse contabilizar créditos tributários do Imposto de Renda. "A empresa é viável operacionalmente. O problema é o equacionamento da dívida."

CURTO PRAZO

Apesar da sensível melhora em termos operacionais, os próprios auditores da Trevisan, que assinam o balanço, dizem em seu parecer final que a manutenção das atividades da companhia depende de um aporte "relevante" de recursos no curto prazo. Isso porque o fluxo de caixa da empresa no curto prazo (isto é, até 90 dias) está negativo em R$ 1,4 bilhão.