Título: Com metáfora, Lula nega reajuste para os militares
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Nacional, p. A7

'Às vezes, a gente é obrigado a dizer para um filho que não pode dar aquela coisa' Apesar dos protestos dos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticamente enterrou as esperanças dos militares de receberem a segunda parcela do reajuste de 23%, que havia sido prometida pelo governo. Lula afirmou ontem, mais uma vez, que "com carinho" vai tentar encontrar um jeito de dar um reajuste para os militares, "mas dentro das possibilidades do nosso orçamento". O presidente Lula fez questão, no entanto, de não se comprometer com o pagamento de nenhum tipo de reajuste para a categoria nem fazer novas promessas. Antes de deixar o Ministério da Defesa, o embaixador José Viegas anunciou 10% de reajuste em setembro, avisando que os 23% restantes seriam pagos até o final do primeiro trimestre deste ano.

"Às vezes, a gente é obrigado a dizer para um filho da gente, que está reivindicando alguma coisa, que a gente não pode dar aquela coisa", comparou o presidente, para justificar o não atendimento da reivindicação. "E da mesma forma que eu tenho, às vezes, que dizer que não posso dar tudo que o meu filho deseja, eu tenho que dizer à sociedade brasileira que a gente não pode fazer tudo que a gente gostaria de fazer, mas o que nós estamos fazendo é o máximo que a gente pode fazer", disse ele, acrescentando que tem certeza que serão "criadas as condições" para melhorar a vida, tanto dos militares quanto dos civis no País.

As declarações do presidente surpreenderam e decepcionaram as lideranças. "Quando ele compara a reivindicação dos militares com os pedidos dos filhos, o presidente dá um recado claro que não vai conceder o reajuste, porque não estamos pedindo aumento, mas reajuste", desabafou Ester Araújo, presidente de uma das associações de mulheres de militares.

"Foi uma decepção, mas acho que o presidente Lula precisa ser mais aberto e objetivo. Se não pode conceder o que prometeu, que pelo menos apresente uma proposta, que parcele, mas que dê alguma coisa, e logo", declarou Ester, ao avisar que as mulheres vão voltar a se mobilizar pelo reajuste. "Vamos continuar perturbando", avisou