Título: Presidente reconhece que errou na eleição de Severino
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Nacional, p. A7

Lula diz que deveria ter participado mais do processo que derrotou candidato do PT Tânia Monteiro, Vera Rosa e Expedito Filho

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que "possivelmente" um dos erros do seu governo foi não ter tido participação maior na sucessão na Câmara, que levou à derrota do candidato petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e elegeu o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). "Sorte de quem ganhou, azar de quem perdeu", resumiu, lembrando que ele foi eleito dentro das regras da Câmara. Lula evitou polemizar com Severino, que tem criado inúmeros problemas para o Planalto, e chegou a tratá-lo como "aliado". Questionado se acreditava mesmo que o deputado é um aliado, o presidente consertou: "O partido dele faz parte da base de sustentação do governo."

Tentando agradar os parlamentares e atrair Severino para seu lado, Lula disse que "é grato ao Congresso" por tudo que conseguiu votar neste período e destacou a aprovação das reformas do Poder Judiciário, tributária e da Previdência, acrescentando acreditar que o apoio das duas Casas continuará. "Acredito que Severino será um bom colaborador nisso", afirmou, explicando que, se houver problemas na relação política dentro do Congresso, esta é uma questão que os partidos terão de resolver.

"Eu não quero confundir o papel que cada partido tem, que tem seu líder no Congresso, com uma ação do governo. O governo vai continuar fazendo aquilo que precisa ser feito para a boa governança de nosso país", avisou.

Na entrevista, Lula minimizou o fato de o governo não ter conseguido aprovar integralmente a Medida Provisória 232, que corrigia em 10% a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física e elevava impostos do setor de serviços. "No frigir dos ovos, foi aprovada a reivindicação dos trabalhadores", afirmou, referindo-se à correção da tabela do IR.

O presidente utilizou uma nova metáfora para lembrar que é necessário que o benefício a ser criado tenha receita correspondente. "Digo sempre que tem que olhar o que tem em casa. Ninguém pode aprovar gastos sem aprovar a fonte de receita", recomendou.

O presidente, por várias vezes, defendeu a necessidade de bom relacionamento com o Congresso e de não interferência entre os poderes. No entanto, aproveitou para criticar propostas, como a aprovada no Senado que obriga o governo a criar creches e garantir educação infantil, sem indicar de onde virão as verbas para bancá-las. "Quando se aprova uma lei tem que dizer de onde vai sair o dinheiro", disse, sem citar nenhum projeto especificamente.