Título: Severino diz que tirou Palocci do pedestal
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Nacional, p. A12

Para o deputado, governo precisa de

alguém que 'diga o que precisa ser dito' O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), disse ontem em Anápolis, a 160 quilômetros de Brasília, que é mesmo aliado do Planalto, mas continuará fazendo críticas "construtivas". De uma platéia de empresários e agricultores, ele arrancou risos ao citar como exemplo de ação que "engrandece" o País a proeza de ter tirado, com ajuda de governadores, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, do pedestal no debate da reforma tributária. "O governo precisa ter alguém que não fique na copa e na cozinha e tenha coragem de dizer o que precisa ser dito", salientou. "Mas nunca houve briga, não somos inimigos ou adversários."

Ao participar do lançamento de uma frente parlamentar em defesa da retomada das obras da Ferrovia Norte-Sul, de Goiás ao Maranhão, Severino agradeceu a Goiás por dar o primeiro passo no movimento dos governadores para que Palocci discutisse mudanças no texto da reforma tributária. Referia-se ao encontro, no gabinete da presidência da Câmara, em que o ministro negociou mudanças no projeto da reforma, em 22 de março. "Ele (Palocci) estava no pedestal do ministério e desceu para atender à solicitação e ouvir os governadores."

Momentos antes, em Brasília, Lula afirmava na entrevista que Severino era um aliado e integrante de sua base. O presidente chegou a admitir que o governo errou no processo que resultou na vitória de Severino na disputa pela presidência da Câmara.

Em Anápolis, Severino avaliou que Lula, na entrevista, demonstrou ser um homem inteligente. "Sou mesmo um aliado."

FIEL ÀS ORIGENS

Severino comentou sua vitória na Câmara e se queixou das críticas da imprensa. "Eles (jornalistas) querem modificar o deputado Severino Cavalcanti", disse. "Cheguei à presidência da Câmara com todas as minhas virtudes e defeitos e vou me manter fiel às origens, meu gabinete continuará de portas abertas e a imprensa não vai mudar meu comportamento." A uma pergunta sobre a repercussão de suas declarações, respondeu que não está atrapalhando o governo. "O presidente Lula é meu aliado, as críticas que porventura a imprensa acha que estou fazendo são construtivas e para o bem do País."

Contraditoriamente, ele citou um tema que o governo faz questão de esquecer. Recomendou aos jornalistas não terem receio de publicar suas críticas ao governo, pois não deixará a Câmara aprovar o projeto sobre a imprensa que o Planalto tentou votar, mas foi arquivado depois de forte pressão de entidades jornalísticas. "Podem ficar tranqüilos e certos de que a lei de imprensa não vai ser votada, porque eu respeito a liberdade de imprensa."