Título: Aluno custa R$ 6 mil por ano em SP
Autor: Sérgio Gobetti Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Nacional, p. A14

Valor se refere às creches da Prefeitura

de São Paulo, tidas como modelo

A Prefeitura de São Paulo gasta mais de R$ 6 mil por aluno, por ano, para oferecer creche para crianças de 0 a 4 anos. É o preço de fraldas, jogos de lençóis sempre higienizados, sete refeições e uma proporção de sete bebês para cada educador. Nos Centros Educacionais Unificados (CEUs), que têm as creches consideradas modelo da rede pública, há ainda nutricionistas e 60% dos professores com nível superior. O custo da criança na creche é quase cinco vezes maior que o da que cursa o ensino fundamental, já obrigatório por lei. O projeto da senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), aprovado esta semana, exige ainda das prefeituras o oferecimento da pré-escola, que vai dos 4 aos 6 anos e que em São Paulo custa R$ 1.470 por criança, por ano. "Eu amo a piscina, mas ainda não sei nadar", diz a Francesca Moura Ribeiro, de 6 anos, aluna do CEU Butantã. A estrutura das unidades construídas pela gestão Marta Suplicy acaba encarecendo o valor por aluno - a Prefeitura divulga somente o preço da manutenção de cada unidade, que é de R$ 700 mil mensais. O valor da construção foi de R$ 18 milhões.

Lá, o espaço foi todo construído para a criança pequena. As salas de aula têm mesas onde cabem seis alunos, para incentivar a convivência e o trabalho em grupo, essenciais nessa idade. Há bancadas baixas e pias em todas as classes. Os banheiros também são adaptados para a altura das crianças. "A educação de qualidade também depende de recursos, como piscina, computadores, espaço de recreação", diz a diretora da educação infantil no CEU Butantã, Solange Souza.

As creches nos CEUs têm vários ambientes e ocupam um prédio redondo que se destaca no projeto de arquitetura. Dentro dele, os bebês ficam livres para engatinhar pelos colchões, dormir, brincar. As salas são divididas por portas de correr que proporcionam vários ambientes diferentes e ainda funcionam como lousas. E os alunos podem ficar até 12 horas na escola, enquanto muitas escolas públicas na cidade têm três turnos. "Não me espanto em ver todo esse dinheiro sendo gasto com uma criança", diz a professora da Universidade de São Paulo, especialista em educação infantil, Marieta Nicolau.

ALFABETIZAÇÃO

Pesquisas indicam que a alfabetização é bem mais eficiente quando a criança freqüentou o ensino infantil. "Ela vai aprendendo a função da escrita conforme faz atividades na escola: ouve uma história, vê a professora escrevendo na lousa", explica Marieta. A educadora aprova o projeto que torna obrigatório esse nível de ensino. "Na escola, ela tem a oportunidade de brincar, de compartilhar, imaginar, solucionar problemas, o que não seria possível em casa apenas com irmãos, avó ou babá."

As creches, no entanto, para a população pobre ainda têm também o papel da assistência. A Secretaria Municipal da Educação não sabe estimar quantos são os pais que procuraram creche para seus filhos e não encontraram vagas. Mas São Paulo tem atualmente cerca de 800 mil crianças entre 0 e 3 anos, segundo o IBGE, e 137 mil delas estão matriculadas em creches públicas ou particulares.