Título: Pequim muda de estratégia e busca aliados
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Internacional, p. A19

O histórico encontro de ontem entre o presidente chinês Hu Jintao e Lien Chan, líder do oposicionista Partido Nacionalista de Taiwan, assinala uma política mais matizada de Pequim em relação a Taipé, mesmo que, como dizem analistas, sua abordagem continue fundamentalmente a mesma. "É a clássica estratégia do dividir para conquistar: reúna o máximo de aliados e isole o inimigo", disse Jean-Philippe Beja, do Centro de Estudos Internacionais e Pesquisa de Paris. "Mas eles não estão se comportando mal nesse caso. É uma jogada muito inteligente." Apesar de Pequim estender a mão para a oposição pró-Pequim de Taiwan, manteve distância do governo democraticamente eleito de Taiwan, liderado pelo presidente Chen Shui-bian. Tensões entre Taipé e Pequim foram fortes durante os cinco anos de Chen no cargo, enquanto seu governo percorreu um caminho pró-independência para a ilha que os chineses consideram parte de seu território.

Apesar disso, a China disse na quinta-feira que gostaria de estabelecer uma relação com o Partido Progressista Democrático de Chen. Pequim espera realizar várias coisas com o primeiro encontro de alto nível entre comunistas e nacionalistas desde que estes últimos cruzaram o Estreito de Taiwan em 1949, depois de perder a guerra civil.

Quer ganhar pontos no âmbito internacional parecendo mais razoável e disposta a se comprometer, depois do desastre de relações públicas que se seguiu à passagem no mês passado de uma lei anti-secessão que indicou a disposição da China de usar a força contra Taiwan se a ilha buscar a independência.

A China vai reforçar essa imagem com um encontro nas próximas semanas entre Hu e uma outra grande personalidade da oposição taiwanesa, o presidente do Primeiro Partido Popular, James Soong. "Esses convites aos taiwaneses ajudam a China a retomar terreno nas questões que envolvem o Estreito", disse Shen Dingli, especialista em política externa da Fudan University, em Xangai. "E tira o foco internacional da lei anti-secessão."

A mensagem não tão sutil de Pequim, dizem analistas, é que o país está disposto a encontrar com líderes taiwaneses "razoáveis", mas não com funcionários do governo "intransigentes".

Um segundo objetivo de Pequim com o encontro é conquistar a opinião pública taiwanesa. A China tem alguns trunfos para apelar diretamente ao povo taiwanês. E incluem a redução do número de mísseis apontados para a ilha, dos atuais 700; abrir seu mercado para mais produtos agrícolas taiwaneses; permitir que turistas do continente visitem Taiwan; permitir a associação de Taiwan em alguns corpos internacionais; a realização conjunta das Olimpíadas de 2008 e até um panda de presente.

A China também espera limitar Chen politicamente. Para analistas, Pequim quer forçar Chen a suavizar sua linha pró-independência e fazer aberturas para a China na esperança de garantir um legado histórico ou rejeitar a iniciativa e parecer intransigente. A mais recente abordagem surge após anos de atitudes freqüentemente desastradas que incluíram lançamento de mísseis na direção da ilha e ameaças antes das eleições taiwanesas para intimidar os eleitores.