Título: Embaixador ignorou alerta para preparar a retirada
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Internacional, p. A22

Frank Snepp, analista da CIA, foi retirado às 22 horas de 29 de abril. Desde o início de abril, o analista de 28 anos tentara repetidamente convencer o embaixador Graham Martin de que era hora de fazer um plano de retirada. Não era uma mensagem que Martin pudesse aceitar. Martin fora enviado a Saigon depois do cessar-fogo com a missão de convencer os sul-vietnamitas de que era possível vencer a guerra, e perdera um filho no conflito. "Ele disse: 'Não acredito em você. Tenho informações de inteligência melhores.' Ele suspendeu todas as sessões de informes militares. Negou-se a receber qualquer coisa que contradissesse aquilo em que queria acreditar", lembra Snepp. A conseqüência da negação de Martin foi o caos. Na tarde de 29 de abril, o embaixador estava em seu escritório destruindo materiais críticos para evitar sua apreensão pelos norte-vietnamitas e a CIA rasgava documentos secretos freneticamente. Snepp passou o dia puxando pessoas por cima dos muros do complexo.

"Como não havia sido feito nenhum plano coerente, não havia prioridade entre os que seriam retirados. Estávamos brincando de Deus, mandando pessoas de volta, separando crianças dos pais", diz Snepp. "A grande mensagem do colapso do Vietnã é: muitos americanos foram ao Vietnã com todas as respostas e voltamos com nada mais que perguntas, e não as respondemos. Como lidar com uma insurgência? Como lidar com uma situação caótica em que há civis misturados aos combatentes? Deveríamos estar lá? O colapso foi um divisor de águas do século 20, e sofremos as conseqüências porque nunca fomos capazes de entender as perguntas que ele nos deixou."