Título: Família foi a última a entrar e primeira a sair
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Internacional, p. A22

"Fomos os últimos a entrar e os primeiros a sair." Retirados às 16h de 29 de abril. Na tarde de 29 de abril de 1975, naquelas últimas e terríveis horas antes da queda de Saigon nas mãos do Exército norte-vietnamita, Toai Vuong Ngo, sua mulher, Nghiem Lan Ngo, e a irmã dela de 18 anos, Tuyet Lan Ngo, viram-se no meio da aglomeração desesperada diante de uma entrada lateral da embaixada dos EUA, presos entre a multidão e os fuzileiros navais de braços dados no portão. Eles estavam lá havia mais de três horas, e Toai tentava freneticamente chamar a atenção dos guardas para lhes mostrar os documentos autorizando a partida da família na ponte aérea americana. Dois jipes se aproximaram trazendo um general sul-vietnamita e um importante funcionário ligado à CIA. O portão, fechado havia mais de três horas, se entreabriu. Tuyet foi empurrada em direção ao portão com tanta força que mal pôde respirar; uma foto de seu rosto angustiado diante da entrada apareceria na capa da revista Newsweek duas semanas depois. "Voei para dentro", conta ela. "Eu estava chorando e, quando abri os olhos, percebi que já estava do lado de dentro. Considero isso um milagre."

Um amigo de Toai agarrava seu cinto quando o portão se abriu, mas não conseguiu entrar. Ele passou sete anos num campo de reeducação. Toai acredita que poderia ter seguido o mesmo destino. Ativista estudantil, ele ainda traz no abdôme a cicatriz de um ferimento a bala provocado por um rival comunista em 1967, e seu trabalho no Ministério da Informação sul-vietnamita o transformara num alvo óbvio.