Título: Vietnã prefere olhar para o futuro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Internacional, p. A22

Governo vietnamita envia mensagem conciliatória no aniversário da vitória comunista sobre os Estados Unidos O primeiro-ministro do Vietnã, Phan Van Khai, leu ontem em Hanói uma mensagem de reconciliação na abertura oficial dos festejos para comemorar o 30.º aniversário do fim da guerra com os EUA, conflito que no Vietnã se conhece como a Guerra Americana. "O espírito de querer encerrar o passado e olhar para o futuro foi demonstrado por todo o povo e governo vietnamitas e pelas políticas do partido (comunista) aos que estavam do outro lado das linhas de combate, a todos os que ficaram no país ou foram para o exterior e aos estrangeiros que participaram da invasão do Vietnã", declarou Khai.

O primeiro-ministro também prestou tributo aos países comunistas que ajudaram o Vietnã do Norte a conseguir a vitória em sua guerra contra o Sul, apoiado pelos EUA.

O Vietnã comemora 30 anos do fim da "Guerra Americana" hoje, não mais simplesmente vangloriando-se com sua vitória, mas, em vez disso, insistindo com as pessoas para olharem para o futuro.

Cientes de que uma demonstração de triunfo muito visível poderia prejudicar os laços com os EUA, as comemorações foram moderadas em comparação com anos anteriores. Haverá queima de fogos de artifício em grande quantidade e cerimônias onde antes era Saigon para marcar o horário em que a guerra terminou - às 11horas de 30 de abril de 1975.

No ano seguinte, a cidade mudou de nome, passando a se chamar Cidade Ho Chi Minh.

Mais de 7.500 prisioneiros, incluindo alguns do tempo da guerra, foram soltos este ano como parte da anistia de aniversário.

Mas o único desfile militar previsto é em frente do palácio onde o governo de Saigon apoiado pelos EUA fez sua última resistência. As tropas americanas, que no auge da guerra, no final da década de 60, tinham chegado a 500 mil homens, tinham abandonado o Vietnã dois anos antes.

Na guerra, morreram mais de 58 mil soldados americanos e mais de 2 milhões de vietnamitas. As baixas americanas suplantam de longe as mortes em todas as outras guerras nas quais os EUA esteve envolvido a partir de 1975.

O único visitante estrangeiro relevante será o vice-presidente cubano, o general Raul Castro Ruz, também ministro da Defesa de Cuba e considerado herdeiro de Fidel Castro.

Cuba, junto à União Soviética e a China, foram aliados-chave do Vietnã do Norte comunista na guerra com os EUA.

O MUNDO PROGREDIU

Resumindo o estado de espírito de moderação e reconciliação, o ex-primeiro-ministro vietnamita, Vo Van Kiet, disse na última edição da Análise dos Assuntos Internacionais do Ministério das Relações Exteriores que deseja que a guerra finalmente se retire para o passado.

"A forma como temos comemorado essas datas históricas está se tornando repetitiva e o excesso pode ser contraproducente", escreveu ele. "Temos de avançar com as reformas e evitar a vaidade e a doença de falar demais sobre nossas proezas", disse Kiet, que foi primeiro-ministro em meados da década de 90.

"O mundo tem avançado rapidamente e nós temos de nos apressar para acompanhar e não apenas cantar loas ao passado."

Numa entrevista a jornalistas estrangeiros no início deste mês, antes do aniversário da guerra, o embaixador do EUA no Vietnã, Michael Marine, também procurou reduzir a importância da data.

"Obviamente, um 30.º aniversário vai atrair a atenção, mas no quadro geral, não considero particularmente importante em termos da relação entre EUA e Vietnã."

"A relação vem progredindo continuamente, se não espetacularmente, nos últimos dez anos (desde que os laços diplomáticos foram restabelecidos), numa ampla gama de frentes", acrescentou Marine.